A demanda por energia cresce em escala bem maior do que a população, principalmente em razão de processos produtivos ineficientes, em razão da obsolescência tecnológica e dos subsídios. O interesse econômico no desenvolvimento industrial, desde o início do século XX, condicionou os subsídios ao custo da energia adquirida pela industria e, ao longo do tempo, isto, no longo prazo, estimulou a obsolescência tecnológica dos processos produtivos.
Em recente artigo [Thermodynamic Analysis of Resources Used in Manufacturing Processes], pesquisadores do Departamento de Engenharia Mecânica do MIT, Massachusetts Institute of Technology, analisaram 20 dos maiores processos de produção industrial, identificando que a demanda por energia, mesmo em processos modernos, atinge níveis alarmantes.
Segundo os pesquisadores, nas últimas décadas, a utilização de energia por unidade produzida, chegou a aumentar até 6 vezes. O mesmo ocorreu em termos da utilização de matérias primas. O estudo avalia que a indústria, uma vez garantida a energia subsidiada, foca a sua gestão de produção em outros fatores, tais como preço, qualidade ou ciclo de vida, não necessariamente na quantidade de energia utilizada pelo próprio processo de produção.
No entanto, isto pode mudar, tendo em vista o custo crescente da energia. Mais ainda se forem adotadas taxações por emissão de CO2. Uma parcela significativa do orçamento previsto pela administração Barack Obama para o desenvolvimento de novas tecnologias também prevê o incentivo ao desenvolvimento de novos processos produtivos.
Mas isto não será uma transição fácil, inclusive porque exige uma revisão dos conceitos de desenvolvimento utilizados pela engenharia. Um bom exemplo disto, pode estar, por exemplo, na indústria automotiva, que concentra 80% de seus investimentos em pesquisa na eletrônica embarcada, sem se dedicar à eficiência dos motores.
Segundo Luis Alberto Moreno, no artigo “A maior fonte de energia inexplorada do Brasil”, a América Latina precisará de 75% a mais de energia em 2030 do que precisava em 2004 se as tendências atuais tiverem continuidade. Ele conta que pesquisas do Banco Interamericano de Desenvolvimento indicam que a América Latina e o Caribe como um todo poderiam reduzir o consumo esperado de eletricidade em 10% até 2018 se, por exemplo, os países investissem mais em tecnologia e equipamentos amplamente acessíveis.
Na outra ponta da questão, o custo das matérias primas também segue em crescimento, tanto pela redução das reservas, como pelo aumento dos custos de produção.
A crise ambiental, ao longo do século XXI, continuará a crescer e, dentre outras mudanças urgentes, precisamos reduzir drasticamente os atuais níveis de consumo e modificar os processos produtivos. A eficiência está deixando de ser uma mera opção industrial para tornar-se uma questão de sobrevivência.
O artigo “Thermodynamic Analysis of Resources Used in Manufacturing Processes”, publicado na Environmental Science and Technology, apenas está disponível para assinantes.
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Henrique Cortez Weblog, 30/03/2009)