Em junho de 2008, tomei a coragem de fechar minha conta em um dos grandes bancos canadenses e abrir em um pequeno banco que tem apenas uma agência em Calgary e é quase todo baseado na Internet, usando os serviços de outros bancos mas sem cobrar por isso. Há muito tempo queria fazer isso, mas não sabia muito bem porque. Ou talvez soubesse, mas não pelas razões que tenho hoje.
Segundo Ellis Jones, autor do livro The Better World Handbook (algo como O guia para um mundo melhor), a escolha do banco é uma das dez ações que indivíduos podem fazer para criar um mundo melhor. Surpreso? “Dinheiro não é necessariamente bom ou ruim. É apenas uma das maneiras que usamos para definir o mundo ao nosso redor. O dinheiro não se importa se o usamos para destruir ou construir o mundo. Ele simplesmente vai para onde o mandarmos”, explica Jones, e acrescenta que muitas atividades financiadas por bancos provavelmente não seguem nossos valores. Pelo contrário: destroem as coisas que mais presamos!
Ano passado, a Rainforest Action Network publicou um relatório onde diz que a “pegada de carbono” dos maiores bancos do Canadá é maior do que todas as emissões por uso de energia do país em 2006. As “emissões financeiras” são maiores do que todas as outras atividades do país, incluindo indústrias, transportes, energia usada nas residências e escritórios, manufatura etc. Isto acontece porque bancos financiam a indústria do petróleo, sem contar que muitos financiam empresas que produzem armas para as guerras e guerrilhas no mundo.
“Poucos anos atrás eu comecei a pensar em investimentos e descobri que meu conselheiro financeiro estava sugerindo pôr meu dinheiro em fundos de investimento aberto que apoiavam empresas que eu evitava como consumidor”, disse Ashley Lubyk, coordenador do Programa de Serviços residenciais da Clean Calgary Association, ONG onde eu trabalho há mais de dois anos e meio.
Caso perdido? Nem tanto. É difícil pensar que nosso poder como consumidor afeta a decisão de uma mega empresa. Mas afeta. Temos poder, sim, apesar de parecer, a princípio, que não temos esperança. Se cada um de nós mudarmos nossa maneira de viver neste mundo, é a ação individual, no final, que vai contar e que vai transformá-la em coletiva. Temos exemplos de sobra para contar, mas o que me vem à cabeça, agora, é o do McDonald’s, que passou a oferecer opções mais, digamos, saudáveis por conta da ação da mídia e de seus clientes.
A verdade é que, a menos que um banco divulgue claramente que não apóia determinadas causas e empresas, não temos como saber se nosso dinheiro está sendo usado para o bem ou para o mal. É aqui que a sua escolha conta: “é o investidor, ou na verdade qualquer um que abra uma conta bancária, que vai escolher um banco que siga seus valores. E apesar do que você tenha ouvido falar dos bancos no passado, isto não é mais uma tarefa impossível”, diz Lubyk. Pelo menos, não aqui no Canadá, e sugiro uma busca cuidadosa para descobrir opções no Brasil.
Associações de crédito podem ser um começo e uma das soluções, já que muitas são de propriedade de membros, apóiam as comunidades locais, financiam projetos comunitários e pequenas empresas. Alguns websites canadenses podem ajudar na sua busca, como o do meu atual banco, Citizen’s Bank of Canada. Eles fazem parte do VanCity, a maior associação de crédito canadense e são exemplares, oferecendo uma política clara e ética, apoiando organizações como a Anistia Internacional e Oxfam e oferecendo linhas de crédito para algumas das comunidades mais pobres do mundo através de um programa chamado Shared World Term Deposit. Procure também o The Ethical Funds Company, que está na frente da indústria de investimentos responsáveis há mais de 20 anos.
E não deixe de visitar o site de uma instituição prá lá de interessante, chamada Calgary Dollars. Esta moeda local existe para construir e desenvolver comunidades unindo talentos e recursos para fortalecer a economia local.
“Colocar o seu dinheiro nas mãos de organizações que possuem os mesmos valores que você é uma poderosa forma de apoiar iniciativas que podemos nos orgulhar. Trocar de banco é uma forma de contribuir poderosa e relativamente simples. E você não precisa de milhares de dólares para fazer a diferença, mesmo quem tem o menor dos fundos pode fazer uma enorme diferença se combinado com milhares de outros clientes conscientes”, explica Lubyk, finalizando que “esta pode ser apenas mais uma ferramenta para criarmos o mundo em que sonhamos viver”.
(Por
Helena Artmann, O Eco, 24/03/2009)