Trabalhadores reclamam do rigor dos fiscais do Ibama e reivindicam mudanças para seguir na atividadeParecia procissão fluvial, como a que homenageia Nossa Senhora dos Navegantes, em fevereiro, mas desta vez o motivo do encontro foi outro.
Nas águas do canal que separa Rio Grande de São José do Norte, cem barcos artesanais e 200 pescadores, das colônias Z-1 e Z-2, de Rio Grande e São José do Norte protestaram ontem à tarde contra a ação dos fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
– Nós estamos aqui pedindo para trabalhar em paz. É preciso ter fiscalização, mas não dessa forma – explica o pescador Rosenir Costa Viana, 43 anos, um dos organizadores da mobilização.
Na sexta-feira passada, 50 barcos foram flagrados pelo Ibama realizando pesca de arrasto na Lagoa dos Patos. As multas elevadas e as abordagens geraram protesto.
– Nós queremos um ajustamento para que o pescador continue trabalhando nesta safra, que está sendo ótima para o camarão, mas sem essas multas. Queremos, sim, programar o futuro da pesca na lagoa – destaca o pescador Fernando Machado.
– Se os pescadores não puderem trabalhar, milhares de pessoas vão passar dificuldade. O que será deles? – questionou Luis Carlos Costa, presidente da Câmara de Vereadores de São José do Norte, que acompanhou a mobilização.
Depois de atracar as embarcações no cais do Porto Velho, em Rio Grande, os pescadores saíram a pé pelas ruas do Centro em direção ao escritório do Ibama, na Rua Coronel Sampaio. O prédio estava fechado e o grupo não foi recebido. De lá, os manifestantes seguiram até a prefeitura e foram atendidos pelo vice-prefeito Adinelson Troca (PSDB).
Ao contar o que ocorreu, Ernis Garcia, 47 anos, 33 deles como pescador, chorou. Ele recebeu uma multa estimada em R$ 60 mil:
– Como vou pagar esse valor? Será que estamos destruindo mesmo todo o peixe da lagoa?
Segundo o chefe do escritório do Ibama em Rio Grande, Sandro Kippel, as operações são periódicas e cumprem o que determina a lei. Ele explica que a pesca de arrasto é proibida por usar equipamentos que capturam peixes e crustáceos com tamanho abaixo do permitido, além de destruir algas do fundo da Lagoa dos Patos que servem de alimento para outras espécies. Além da multa, os pescadores flagrados ainda podem perdem a embarcação. Ela fica retida e só é devolvida depois do caso ser analisado pelo Ibama em Brasília.
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Zero Hora, 31/03/2009)