"Muitos pensam que pagando impostos podem jogar lixo nos arroios", diz psicólogaLixo nas calçadas, móveis velhos dentro dos arroios e paradas de ônibus pichadas ou aos pedaços são cada vez mais parte do cenário urbano. Geralmente, a cobrança acaba recaindo sobre o poder público. Porém, dificilmente, cobra-se de quem cometeu o ato.
Para a psicóloga Luciele Nardi Comunello, mestranda em Psicologia Social na Puc, que está estudando os movimentos urbanos e a sustentabilidade nas cidades, estas ações são características da própria cultura atual, onde se pensa que tudo pode ser descartável e instantâneo.
Outro fator que, segundo a psicóloga, influencia em determinadas atitudes é o chamado "clientelismo".
— Muitos pensam que pagando impostos podem jogar lixo nos arroios ou destruir paradas de ônibus e, simplesmente, cobrarem do poder público. Não existe a sensação de culpa — constata, Luciele.
O Diário Gaúcho percorreu nesta segunda-feira a Capital e também uma cidade da Região Metropolitana e registrou imagens desta triste realidade:
Lixo no Arroio José Joaquim - Sapucaia do Sul
Ao lado do Arroio José Joaquim, na Vila Vargas, há um local determinado pela própria prefeitura para os moradores deixarem o lixo que será recolhido pela empresa terceirizada. O secretário de Obras, João Huppes, reconhece que o espaço é inapropriado para depósito e diz que a escolha ocorreu em administrações anteriores.
Na manhã desta segunda-feira, a dona-de-casa Olívia Madeira, 46 anos, que mora ao lado do arroio, deixou dois sacos de resíduos domésticos na área.
— Eu acho errado deixar o lixo quase dentro do arroio, mas todo mundo faz. Depois, a prefeitura recolhe — justificou.
Porta e almofada no Dilúvio
Para conter a falta de educação de muitos moradores, é preciso uma máquina exclusiva para limpeza dos 12km do Arroio Dilúvio, em Porto Alegre. Entre outubro de 2006 e o final de fevereiro deste ano, foram retiradas 108 mil toneladas de entulho do córrego, segundo o departamento.
A limpeza é feita por trechos, diariamente. Ontem, enquanto a máquina trabalhava em frente a Puc, uma almofada e uma porta de madeira boiavam em outro extremo do Dilúvio, quase na Avenida Antônio de Carvalho.
Lixo em local proibido Na esquina da Avenida Bento Gonçalves com a Rua General Telmo de Oliveira Sant'Anna, nem a placa sinalizando que é proibido jogar lixo no local coíbe a ação dos "desavisados". Entulhos e restos de lixo domésticos se acumulam na calçada da avenida e, na primeira chuva, acabam indo para a boca-de-lobo mais próxima.
Conforme o Dmlu, o maior problema enfrentado hoje pelo órgão é exatamente com os focos de lixo em locais impróprios. Por dia, são recolhidas 300 toneladas só destes espaços. Um gasto público mensal de R$ 500 mil.
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Zero Hora, 30/03/2009)