Como fez frequentemente nos últimos 18 meses, Andy Roost dirigiu seu Peugeot 205 a diesel até uma fazenda, onde placas apontavam um caminho para "ovos" e outro para "óleo". Ele abriu a tampa do tanque para que Colin Friedlos, o proprietário, despejasse três galões de óleo de cozinha usado -tingido de verde para indicar um benefício ambiental- no tanque de combustível do carro.Friedlos opera uma das centenas de pequenas fábricas no Reino Unido que estão processando e muitas vezes vendendo a motoristas particulares óleo de cozinha usado, que pode ser despejado diretamente em carros a diesel sem qualquer modificação. No ano passado, quando o preço do petróleo chegou a US$ 147 o barril, várias grandes companhias da Europa e dos EUA foram incentivadas a montar fábricas para coletar e refinar óleo de cozinha usado, transformando-o em biodiesel. A recessão global e a queda acentuada dos preços do petróleo hoje mataram muitas dessas grandes refinarias. Mas as menores e mais simples como a de Friedlos estão avançando para preencher a lacuna com seu produto "direto ao tanque", sendo inundadas por ofertas de óleo grátis de restaurantes.
Alguns comerciantes britânicos oferecem abastecimento em quintais e celeiros de subúrbio. Outros -como John Nicholson, fundador de uma pequena empresa no País de Gales- fornecem garrafas de combustível verde para carros na porta da casa de centenas de clientes, como se fossem um "leiteiro veicular". O óleo de cozinha usado atraiu crescente atenção nos últimos anos como uma alternativa mais limpa e barata aos combustíveis fósseis para veículos. Em muitos países, o óleo é coletado pelas empresas e refinado em uma espécie de diesel. Algumas cidades o usam em ônibus ou peruas municipais especialmente modificados. E alguns ambientalistas experimentaram individualmente filtrar o óleo e usá-lo como combustível.
No Reino Unido, porém, a abordagem "direto ao tanque" está ganhando popularidade e atraindo pessoas como Roost. O óleo, segundo ele, é "bom para o meio ambiente e mais barato que o diesel, mesmo agora que os preços caíram". Custa R$ 2,89 o litro, cerca de 10% menos que o diesel -e cerca de um terço menos do que o diesel custava no pico dos preços no ano passado. Mas o óleo de cozinha usado não vai eliminar a necessidade de postos de gasolina, nem inverter a mudança climática, segundo especialistas em transportes.
"Não se pode comer batatas fritas suficientes" para servir todos os carros que rodam no Ocidente, disse Peder Jensen, especialista em transporte da Agência Ambiental Europeia. No máximo, segundo ele, o óleo de cozinha poderia substituir uma pequena porcentagem do consumo de diesel. Mas, ressaltou, é um dos muitos pequenos ajustes que, somados, podem ter um efeito importante na redução das emissões de gases do efeito estufa.
Jensen disse que o combustível de óleo de cozinha é "factível" para motores a diesel -Rudolf Diesel previu que seu motor, patenteado na década de 1890, funcionaria com ele- e que, "de um ponto de vista ambiental, é uma boa ideia pegar esse lixo e torná-lo útil". As principais barreiras ao uso generalizado do óleo de cozinha, segundo Jensen, são "estruturais", como a falta de padrões de processamento do combustível e a adaptação dos veículos para funcionar com ele. Outros discordam. Stewart Johnson, gerente de engenharia e meio ambiente da Volkswagen nos EUA, acha que colocar óleo vegetal cru nos carros é "uma má ideia" que ele não recomenda. A qualidade inconsistente do óleo de cozinha significa que "ele contém muitas impurezas e pode ser viscoso demais", especialmente para os motores a diesel mais novos e complexos, que têm sistemas de injeção de combustível.
Nada disso parece afetar Nicholson, o empresário galês. Ele disse que usou óleo vegetal de cozinha no carro da família pela primeira vez há oito anos, quando os postos de combustível fecharam por causa de uma crise de combustíveis. Durante alguns anos ele experimentou diversas técnicas e começou o Bio-Power, grupo para ajudar pequenos produtores como ele. "As pessoas dizem: 'Não tenho opção além do posto de gasolina comum, e eles só vendem combustível fóssil'", disse Nicholson. "Precisamos pensar diferente. Isto desafia o status quo."
(Por Elisabeth Rosenthal, NYT /
Folha de S. Paulo, 30/03/2009)