Em Floriano Peixoto, no norte do Estado, seca exige fechamento das torneiras das 13h às 18h diariamente
A falta de água e os racionamentos mudaram os hábitos da população de Floriano Peixoto, no norte gaúcho. Em mais um dos municípios que continuam a suportar os reflexos da estiagem, a população sofre sem água para as atividades mais básicas.
Com a seca prolongada, os poços que abasteciam os 400 moradores do centro de Floriano Peixoto passaram a produzir menos água.
Nesta semana, um deles, que antes dava 14 mil litros por hora, secou e teve de ser desativado. Com isto, os outros dois poços, que fornecem ao todo 4 mil litros de água por hora, ficaram ainda mais sobrecarregados no abastecimento.
– Pedimos para economizar porque não chove mais do que cinco ou seis milímetros. Não conseguimos repor a vazão dos poços – lamenta o prefeito Wilson Babicz (PT).
O racionamento, que antes era feito das 13h às 16h, agora foi estendido até as 18h. O objetivo é propiciar um período de reposição da vazão dos poços, para então conseguir distribuir a água para toda a população urbana. A situação geográfica do município faz com que a falta de água seja um problema constante.
– Nosso solo parece uma peneira. Já perfuramos 20 poços na sede e só encontramos três que têm água – conta o vice-prefeito Everaldo Salvador (PT).
Agroindústria fechou as portas há 15 dias
O racionamento impôs uma nova rotina aos moradores. Calçadas empoeiradas, que antes eram lavadas com mangueira, só recebem um pano úmido. A dona de casa Loridane Paholski, 28 anos, reutiliza o que sobra da máquina de lavar para limpar a casa.
A única agroindústria da cidade, que produzia pepinos em conserva, fechou há 15 dias pela escassez do item indispensável à produção. Na segunda-feira, o município vai fazer outra tentativa de perfurar novos poços.
O servente de pedreiro Carlos Eduardo Ribeiro acrescentou uma ferramenta aos utensílios que usa na construção de casas: tonéis de plástico e lata, constantemente abastecidos com água. Para quem precisa fazer a massa de concreto durante todo o dia, o racionamento de pelo menos cinco horas durante as tardes é um obstáculo que precisa ser administrado.
– Não posso correr o risco de ter de parar a obra por falta de água, minha família depende disso para sobreviver – conta Ribeiro.
A casa de Norma Süss mais parece uma obra em mutirão pela manhã. Desde o horário em que ela se levanta, às 5h, até após o almoço, ninguém descansa. Tudo para conseguir fazer o que é necessário antes que se inicie o horário do racionamento.
– Às vezes, acontece de não vir água o dia todo e ficamos sem até para beber – conta.
Situação piora no Noroeste
Em março, cinco municípios relataram problemas com estiagem no Estado, e quatro deles decretaram situação de emergência. Vista Gaúcha, Pinheirinho do Vale, Barra do Guarita e Tapejara somaram-se aos outros cem que pedem socorro à Defesa Civil.
Em Pinheirinho do Vale, quatro caminhões-pipa fazem incessantes viagens levando 60 cargas para abastecimento no meio rural. A situação se repete em Derrubadas, Vista Gaúcha, Tenente Portela, Palmitinho e Barra do Guarita, na Região Noroeste. Em Barra do Guarita, a falta de água se transformou em problema de saúde pública.
(Por Marielise Ferreira, Zero Hora, 29/03/2009)