O uso de animais como atrações circenses é polêmico e divide opiniões. Muitos defendem que, sem os animais, o espetáculo perdeu a graça. Outros acreditam que os bichos são mal tratados. Para o relações públicas do Circo Europeu, Carlos Santos Sobrinho, os animais são importantes para a vida do circo.
“O animal faz muita falta no circo. O povo fala que sofre, mas não sofre não. Porque o animal de circo é como eu, o cara que é nascido em circo. A maioria desses animais é nascida em circo e não se acostuma fora. Ele não nasceu lá na selva. Aqui no circo ele come porque a gente dá, ele não precisa caçar para comer. E come muito bem”, garante.
Já o coordenador de operações da diretoria de produção ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Roberto Cabral Borges, afirma que é regra encontrar animais em condições ruins nos circos.
“Basicamente todos os chimpanzés que a gente encontra em circo estão com os dentes arrancados. Os felinos normalmente têm suas garras, principalmente as anteriores, arrancadas. Os elefantes são mantidos amarrados por uma pata da frente e outra de trás impedindo a movimentação e o hipopótamo, quando a gente encontra, é com a água suja, o espaço na maioria das vezes é ínfimo”, diz o coordenador.
Borges também afirma que os bichos não recebem alimentação adequada e não têm acompanhamento veterinário. O Ibama também verifica a origem dos animais silvestres e os riscos que eles podem vir a oferecer ao público. O relações públicas Carlos lembra que, por causa da polêmica, os animais do Circo Europeu foram doados. Ele credita parte das dificuldades enfrentadas hoje pelo circo à falta dos bichos como atração.
O coordenador da área de circo da Funarte, Marcos Teixeira, explica que não se pode generalizar e colocar o circo como o grande vilão na questão dos maus tratos. Ele defende a regulamentação do uso dos animais. “Existe uma generalização que não pode ser feita com relação aos animais, nós estamos trabalhando junto com o Ministério do Meio Ambiente, com o Ibama, com o Ministério da Justiça, para que haja uma regulamentação para o uso de animais no circo. Não é proibição, tem que haver uma regulamentação."
Para o coordenador do Ibama, é muito difícil manter animais em boas condições em circos. “A gente fez uma análise técnica de que é incompatível a atividade circense, que é uma atividade itinerante, com o bem estar dos animais e a segurança tanto desses animais quanto do público. Em vista disso, seria interessante que a diversão não fosse pautada no sofrimento dos animais e, sim, na habilidade dos artistas.”
Ainda não existe lei específica sobre o uso de animais em circos. Um projeto de lei do deputado Augusto Carvalho proíbe o uso de animais em apresentações. Mas ele tramita apensado a outro projeto, do senador Álvaro Dias, que institui o registro dos circos e prevê condições para o emprego de animais na atividade.
Na quinta passada (26/03), véspera do Dia Nacional do Circo, foi lançada na Câmara a Frente Parlamentar do Circo Brasileiro, que tem como objetivo identificar os problemas encontrados na legislação para as comunidades circenses, aumentar os recursos para capacitar os profissionais e criar uma previdência para os artistas.
(Por Akemi Nitahara, Rádio Nacional /
Agência Brasil, 27/03/2009)