Na tarde de terça-feira (24), cerca de 30 pessoas protestaram no Salão Nobre do prédio histórico da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no largo São Francisco, região central de São Paulo. No local, estava acontecendo a palestra de Roger Agnelli, diretor-presidente da empresa Vale, antiga Companhia Vale do Rio Doce. Com o tema “Américas e Ásia, abundância e escassez”, a palestra foi promovida pela 2ª Cátedra Mitsui Bussan, do Instituo de Direito Internacional e Relações Internacionais.
A manifestação tinha o intuito de denunciar a expropriação que o povo brasileiro sofreu com a privatização da Companhia Vale do rio Doce, em 1997, durante o governo Fernando Henrique Cardoso.
ManifestaçãoApós o término da apresentação de Agnelli, foi aberto espaço para perguntas. Tiago Barison, advogado e militante da Assembléia Popular, tomou a palavra e iniciou um discurso de denúncia da expropriação das riquezas do povo brasileiro. “O senhor disse, em sua palestra, que o mercado local, o mercado brasileiro é irrelevante. Olhe só que interessante, na época em que o Brasil era oficialmente uma colônia, Portugal também considerava o mercado local irrelevante”, disse.
O militante criticou o que chamou de postura colonialista e entreguista, "uma das responsáveis pela estagnação do desenvolvimento do país". Ainda questionando argumentos levantados pelo palestrante, Barison chamou atenção para o fato de que mesmo o Brasil sendo um país rico em recursos naturais, essa riqueza não é revertida ao povo brasileiro. “Dá para perceber nitidamente o que o senhor diz sobre 'abundância e escassez'. O Brasil é um país rico em recursos e que gera muita riqueza, mas essa riqueza, esse dinheiro gerado não fica para o povo brasileiro. Enquanto os países asiáticos, como o Japão, são pobres em recursos naturais, mas, como o senhor mesmo disse, 'a grana do mundo está lá'”, denunciou.
Após algum tempo de fala, o mestre-de-cerimônia que organizava o evento, passou a pedir que o militante encerrasse sua fala, pois o encontro era um "espaço democrático e era preciso dar voz às contradições".
Em respostas, os manifestantes, membros da Consulta Popular, MST, Uneafro e Assembléia Popular, começaram a gritar palavras-de-ordem, denunciando a privatização da companhia. Enquanto os manifestantes gritavam “Não ao lucro estrangeiro. A Vale é do povo brasileiro”, Agnelli recriminava a manifestação ao microfone. “O que é isso? Que mal exemplo vocês estão dando”, disse.
O diretor-presidente não respondeu aos questionamentos levantados por Barison. Limitou-se a declarar que o discurso feito mostrava desconhecimento da realidade. Após essa intervenção, Douglas Belchior, da Uneafro, perguntou a Agnelli se por acaso ele conhece a periferia das grandes cidades. “Conheço muito mais o Brasil que você”, respondeu Agnelli, que pediu “um cafezinho para acalmá-los”.
Para Belchior, a fala do diretor-presidente foi insulto. “Isso mostra o como a burguesia trata a classe trabalhadora. Ela acha que nós nos contentamos com migalhas”, disse. “Não viemos pedir comida a ele. Viemos exigir que eles devolvam algo que é nosso”, concluiu.
Para Barison, o ato conseguiu atingir seu objetivo principal que era “estragar a festa e demonstrar qual é papel do espaço público”. "Passamos claramente a mensagem ao diretor da Vale, aos professores e a quem mais interessar: que no espaço público as homenagens aos representantes da burguesia entreguista serão duramente contestados pelo ponto de vista do povo brasileiro, que não aceita a privatização da Vale”, declarou.
(Por Jonathan Constantino,
Brasil de Fato, 25/03/2009)