Obama está confiante sobre a implementação de um mercado de limite e comércio de emissões, mas uma recente pesquisa mostra que a iniciativa poderá resultar em queda do PIB e em um custo inicial de US$ 1.100 anuais para as famílias americanas
Nesta semana, o presidente Barack Obama, em sua segunda entrevista coletiva em horário nobre desde que tomou posse, manifestou mais uma vez seu entusiasmo em ver o quanto antes um mercado de limite e comércio de emissões (‘cap-and-trade’) em funcionamento nos EUA.
“Minhas expectativas são as de que o pacote de novas medidas energéticas [que inclui o ‘cap-and-trade’] passe rapidamente pela Câmara e Senado. Tenho certeza que será autorizado e eu vou sancionar”, anunciou enfático Obama.
A princípio o plano propõe que haja uma redução nas emissões da ordem de 14% em 2020 e de 83% em 2025, em relação aos números de 2005.
A oposição do governo não perdeu tempo e já atacou o custo embutido no ‘cap-and-trade’. “Vamos ser honestos, podemos chamar esse mercado de ‘taxa de carbono’, e ela vai atingir diretamente o bolso de todos os americanos que dirigem um carro, que tem emprego ou que simplesmente ligam uma lâmpada”, afirmou o líder republicano na Câmara, John Boehmer.
A total magnitude desse custo nas commodities e no padrão de vida norte-americano nunca foi completamente avaliada. Uma tentativa de medir o peso que a decisão trará para os consumidores foi recentemente publicada pelo Instituto George C. Marshal.
Repassando CustosCom o título de “O custo da Regulamentação Climática para as Residências Americanas” (The Cost of Climate Regulation for American Households), o artigo de autoria dos professores Bryan Buckley e Sergey Mityakov da Universidade de Clemson analisa os resultados de sete estudos governamentais e de ONGs sobre os impactos econômicos de um ‘cap-and-trade’ nos EUA.
De acordo com o atual plano, que segue o modelo proposto pelos senadores Joe Lieberman e Mark Warner, as empresas pagariam entre US$ 13 a US$ 20 por tonelada de CO2 que emitissem na atmosfera. Analistas esperam que boa parte desse custo seja repassado diretamente para os consumidores.
Segundo Buckley e Mityakov, esse repasse faria o preço da gasolina subir imediatamente 12 centavos por galão e a conta da energia elétrica ficar em média 7% mais alta. Os pesquisadores ainda concluíram que poderia haver uma redução de até 1% no PIB anual dos EUA. Assim como o consumo como um todo da população também cairia 1%.
Apesar de parecer pouco, esse 1% de queda no consumo seria o equivalente a um imposto anual de US$ 1.100 para uma família de quatro pessoas em 2008. E esse valor se elevaria para quase US$ 3.000 em 2050.
Os autores fizeram uma comparação com o gasto em alimentação desta mesma família. A média sugere que são gastos US$ 208 mensais com comida em uma casa com quatro pessoas. Portanto, se já estivesse implementado, o custo do ‘cap-and-trade’ em 2008 teria sido o equivalente a quase seis meses de alimentação para esta residência.
Outra perspectivaJá para o diretor do Laboratório de Tecnologias em Energias Alternativas da Universidade de Berkeley, Daniel Kammen, existe um lado positivo do ‘cap-and-trade’ na economia.
Segundo ele, a transformação que a indústria irá sofrer para se adaptar às novas políticas e energias pode criar milhões de empregos e literalmente tirar os EUA do buraco da crise.
“Se os políticos fornecerem os mecanismos financeiros adequados, teremos ainda mais esse argumento para atrair investidores para o combate às mudanças climáticas. Eles virão pelo dinheiro em si, sem precisarmos vender as idéias verdes”, afirma Kammen.
O presidente Obama também vê com mais otimismo as possibilidades econômicas que surgiram com o aquecimento global. “O grande desafio é que devemos mudar para uma nova era energética. E isto significa se distanciar de recursos poluentes em direção às opções limpas. Trata-se de um potencial motor para o crescimento econômico.”
(Por Fabiano Ávila,
CarbonoBrasil, 26/03/2009)