A eleição para escolher o novo diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, um órgão da ONU), na quinta-feira, emperrou depois dos três primeiros turnos de votação, pois o favorito Yukiya Amano não alcançou os dois terços necessários, segundo diplomatas.
O japonês obteve no primeiro turno 21 votos, contra 14 do sul-africano Abdul Samad Minty, e decaiu no segundo, quando o resultado foi 20-15, placar que se repetiu no terceiro turno. A sessão a portas fechadas inclui os 35 países do conselho diretor da AIEA, inclusive o Brasil.
Se após cinco turnos não for definido o sucessor do diretor-geral Mohamed El Baradei, a disputa será aberta a novos candidatos que talvez tenham mais chances de reduzir as diferenças entre os países ricos e pobres do conselho.
El Baradei deixa o cargo em novembro, após três mandatos de quatro anos cada. O conselho quer eleger o sucessor até junho, para garantir uma transição suave num momento de crescentes desafios ao regime de não-proliferação nuclear.
Amano, 61 anos, um diplomata reservado, porém muito enfronhado nas questões da energia nuclear civil e da não-proliferação, manteve sempre uma sólida vantagem sobre Minty, 69 anos, um veterano eloquente negociador de questões de desarmamento, além de ex-ativista contra o Apartheid.
Diplomatas disseram que a vitória de Amano, apesar de se aproximar dos 24 votos necessários, não está garantida, porque há vários países em cima do muro, enquanto outros podem mudar seu voto, que é secreto.
O diretor determina o estilo e substância dos trabalhos da agência, em consultas com os conselheiros dos 35 países. As atividades incluem inspeções em países suspeitos de desenvolverem armas nucleares, e a promoção do compartilhamento da tecnologia nuclear para fins de saúde e desenvolvimento.
Além de tentar equilibrar as demandas de países ricos e pobres e de lidar com um orçamento magro, o novo chefe da AIEA terá de lidar com as paralisadas investigações a respeito das atividades nucleares do Irã e da Síria, que colocaram a AIEA no centro do noticiário internacional.
O futuro diretor deve se beneficiar dos esforços diplomáticos do governo de Barack Obama nos EUA para restabelecer contatos com países suspeitos.
O egípcio El Baradei recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2005, junto com a própria AIEA, mas entrou em atrito com o ex-presidente norte-americano George W. Bush por causa das posturas beligerantes dele contra o Irã e o Iraque de Saddam Hussein, o que na opinião de El Baradei afetava a causa da não-proliferação.
(Por Mark Heinrich e Sylvia Westall,
Reuters, 26/03/2009)