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2009-03-26
Há algum tempo os gaúchos não sabem o que pensar sobre o clima. Nunca antes aquele dito popular de “o tempo está louco” caiu tão bem. A confusão climática é mais sentida no verão, quando boa parte do Rio Grande do Sul sofre com prolongadas estiagens. E isso ocorre justamente onde a chuva é mais esperada, em regiões predominantemente agrícolas com pouca ou quase nenhuma auto-suficiência hídrica. Dependem do que cai do céu.

MAPA DA SECA NA AGRICULTURA GAÚCHA (Fonte: Zero Hora)

Norte
Destaque: soja
Situação: No fim de fevereiro, chuvas atingiram a maior parte da região. Mas essas precipitações são irregulares – em alguns municípios foram registrados 15 milímetros e em outros só 3 milímetros. A situação do milho e do feijão nas áreas próximas a Santa Catarina é crítica. A soja já teve que ser replantada em algumas propriedades.

Noroeste
Destaque: soja
Situação: o plantio deveria estar praticamente encerrado na região, mas ainda há 20% das lavouras esperando por umidade para serem semeadas. As plantas que já germinaram estão com desenvolvimento adequado. O quadro mais grave é no milho. A seca já provoca perdas de 30%.

Campanha
Destaque: arroz
Situação: Todas as áreas destinadas ao arroz já se encontram semeadas e em fase de germinação. Já os produtores de milho iniciaram a semeadura – procedimento feito de forma tardia.

Fronteira Oeste
Destaques: arroz e pecuária
Situação: Quem plantou arroz cedo não está com problemas, pois o tempo seco é favorável ao desenvolvimento vegetativo. Já na pecuária, poucos produtores conseguiram plantar pastagem de verão, pois choveu bastante em outubro e em novembro o tempo ficou seco.

Sul
Destaques: arroz e pecuária
Situação: a chuva que atingiu Santa Vitória do Palmar no fim de Fevereiro, ajudou a reanimar os arrozeiros. Muitos tiveram aumento de custo com banhos nas lavouras, outros já recorriam ao plantio de culturas secas, como milho e sorgo. Os pecuaristas começam a plantar as pastagens de verão.

Vale do Rio Pardo
Destaque: fumo
Situação: desde o início de novembro, cerca de 30% já foi colhido. O fumo é um pouco mais resistente à seca, mas as folhas não estavam agüentando o calor intenso. Com a chuvarada da última semana de Fevereiro, a situação ficou amenizada.

Vale do Taquari
Destaque: milho
Situação: depois da estiagem registrada na segunda quinzena de novembro – que não chegou a resultar em perdas, apenas na queda da qualidade do grão –, as plantações da região foram recuperadas com a chuva do carnaval.

Vale do Jacuí
Destaque: arroz
Situação: com a chuva que atingiu a região esta semana, o plantio dos cerca de 39 mil hectares conseguiu ser finalizado. A precipitação levou umidade ao solo, mas não foi suficiente para encher os mananciais. E é isso que preocupa a Emater, já que boa parte do arroz plantado depende de açudes e pequenos rios.

Vale do Caí e do Sinos
Destaques: bergamota e laranja
Situação: Com as chuvas dos últimos dias, o desenvolvimento das bergamotas e laranjas está normalizado. Neste período, as frutas estão em crescimento (verdes). A laranja pode ter mais prejuízo em caso de estiagem de grande intensidade.

Já em outra parte do Estado, como a capital, Região Metropolitana e Serra, a sensação é a de que a cada ano a chuva está mais presente. Para tristeza dos veranistas, outra região bastante afetada pelas chuvas é justamente o Litoral Norte.

Essa má-distribuição das chuvas não é nenhuma novidade, mas o que vem chamando a atenção é a intensidade que isso vem ocorrendo. Não bastasse isso, o uso intensivo dos recursos hídricos para atividades industriais, agrícolas e abastecimento humano podem tornar a situação bastante grave no Estado. É o que se chama de conflito pelo uso da água.

O uso da água para a agricultura irrigada assusta. Cerca de 90% da nossa água vai para esta finalidade. O restante se divide entre abastecimento público e indústria. No entanto, o engenheiro sanitarista Paulo Renato Paim, diretor do Departamento de Recursos Hídricos (DRH) da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, salienta que boa parte desta água é retornada, embora não existam dados precisos sobre isso.

Tendo como base, o Relatório Anual sobre a Situação dos Recursos Hídricos no Estado do Rio Grande do Sul, concluído no final de 2008, Paim dá a boa notícia de que o uso da água no Estado vem se reduzindo. “Isto quer dizer que seu consumo está mais racional”, afirma o engenheiro.

Ele aponta algumas razões: reuso da água, sobretudo pelas indústrias, tecnologia de ponta, novas práticas na agricultura como plantio direto e redução de irrigação por hectare e companhias de saneamento mais eficientes. Apesar dessa provável redução, Paim destaca que é preciso economizar no uso domiciliar. Ele acredita que houve uma pequena redução provocada pela evolução da conscientização das pessoas, mas que ainda não é possível de ser mensurada. “No uso doméstico não dá para medir ainda embora seja visível uma mobilização maior da sociedade para reduzir o consumo de água”.
 
A atividade que mais reduziu seu consumo foi a agricultura. Conforme o relatório, há cinco anos a média era de 12 mil metros cúbicos de água por hectare/ano. Hoje essa média está em dez mil metros cúbicos de água por hectare/ano.

O relatório elaborado pelo DRH teve como objetivo disponibilizar aos comitês, aos usuários da água e à sociedade em geral informações relativas à disponibilidade hídrica do conjunto das 25 bacias hidrográficas, distribuídas ao longo do Estado. A sua divulgação, além de ser uma exigência prevista na Lei 10.350/1994, a chamada Lei das Águas do Rio Grande do Sul, é tida pelos técnicos da casa como uma condição básica para a viabilização de um processo integrado de gestão deste recurso natural. “Esperamos que as informações disponibilizadas subsidiem a adoção de estratégias mais eficientes para o uso e para a manutenção deste valioso bem natural”, pondera Paim.

Menos otimista, a técnica do DRH, Elaine dos Santos diz que a redução da utilização da água pela agricultura irrigada varia conforme a técnica do produtor e, principalmente, por bacia hidrográfica. “Pelo relatório não dá para afirmar que houve uma redução significativa, embora saibamos pelos Comitês de Bacia que é possível existir essa redução”, diz a geógrafa.

O Conselho de Recursos Hídricos (CRH), por exemplo, tem mecanismos de controle do uso da água como resoluções que inibem a tomada deste recurso em períodos de estiagem para irrigação. “Embora em momentos de crise o abastecimento domiciliar seja prioritário, o objetivo é o de compatibilizar os usos múltiplos da água", argumenta. O relatório aponta que a agricultura usa maciçamente água superficial, sendo o uso de águas subterrâneas para este fim praticamente ínfimo, até mesmo pelo custo elevado de captação.

USO POR FONTE / ATIVIDADE NO RS (Fonte: DRH)

Águas subterrâneas
Abastecimento domiciliar – 138.29 hectômetros cúbicos/ ano
Abastecimento industrial- 37.87 hectômetros cúbicos/ ano

Águas superficiais
Abastecimento domiciliar- 688.68 hectômetros cúbicos/ano
Abastecimento industrial- 463.74 hectômetros cúbicos/ano
Irrigação- 14.168.18 hectômetros cúbicos/ano
Criação de animais- 427.44 hectômetros cúbicos/ano

Referencias
ANA – AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Programa Nacional de Desenvolvimento
dos Recursos Hídricos - PROÁGUA Nacional, 2007.

ECOPLAN ENGENHARIA. Ltda. Plano Estadual de Recursos Hídricos do Rio
Grande do Sul. Relatório Síntese da Fase A – Diagnóstico e Prognóstico Hídrico
das Bacias Hidrográficas do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Junho de 2007,

REDE DAS ÁGUAS. Outorga dos direitos de uso da água.


Relatório Anual sobre a situação dos recursos hídricos no Estado do Rio Grande do Sul. Departamento
de Recursos Hídricos da Secretaria Estadual de Meio Ambiente. Porto Alegre, janeiro de 2009.

(Por Carlos Matsubara, Ambiente JÁ, fevereiro de 2009)
*1 (um) hectômetro equivale a 100000 milímetros (mm)

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