A Agência Internacional de Energia Atômica informa que existem hoje em operação 439 usinas nucleares, distribuídas em 30 países, gerando cerca de 14% do total da energia elétrica do mundo. Considerada como "energia limpa" e segura, a agência estima sua ampliação nos próximos anos, mas especialistas afirmam que o fantasma de Chernobyl não deve se afastar completamente.
"O risco de um acidente sempre existirá", explica Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), em entrevista ao UOL Notícias.
"Como em qualquer tecnologia, existe sempre o risco. Um avião sempre pode cair. Mas existe uma diferença: um acidente nuclear tem capacidade para atingir uma população, pode ter consequências sérias", acrescenta o pesquisador.
Prova disso é o acidente da usina nuclear de Chernobyl, acontecido na Ucrânia no início da madrugada do dia 26 de abril de 1986. Além dos trabalhadores que morreram por intensa exposição à radiação depois de trabalhar no local nos dias seguintes ao acidente, a região registra até hoje um aumento na incidência de câncer.
Seis dias depois da explosão, helicópteros militares lançaram no local toneladas de areia, chumbo, boro e outros materiais, para apagar o incêndio. Em seguida, foi construída uma cobertura de concreto sobre a usina para tentar limitar a contínua emissão radioativa. Apesar disso, a AIEA estima que 4.000 pessoas morreram em decorrência do acidente - para o Greenpeace, o número pode chegar a 9.000, se forem consideradas as mortes por câncer no longo prazo.
A magnitude do acidente impôs mudanças na supervisão das atividades nucleares. Seis meses depois do caso, foram implantadas a Convenção de Rápida Notificação de Acidente Nuclear e a Convenção de Assistência diante de Acidente Nuclear, vinculadas à AIEA.
Apesar dos riscos, a geração de energia elétrica por usinas nucleares no mundo aumentou 75% entre 1986 e 2007, alcançando cerca de 2600 bilhões de kW/h. Até 2030, a AIEA estima que esse valor pode triplicar, uma vez que outros 43 países manifestaram interesse recentemente em iniciar geração de energia por essa fonte.
"Energia limpa" e os dejetos nuclearesA agência aponta que esse aumento se deve principalmente a três fatores: o aumento da demanda global por energia, a volatilidade dos preços dos combustíveis fósseis e o interesse em fontes de energias "limpas". A usina nuclear se enquadra nessa classificação porque não altera a qualidade do ar, não influencia na acidez da chuva e não emite dióxido de carbono.
Ao lado dessa expansão, crescem as dúvidas sobre o futuro dos chamados dejetos nucleares, ou seja, componentes de usinas nucleares que não possuem mais condição de uso, mas ainda assim apresentam radioatividade.
"Hoje não há uma solução definitiva para a questão dos rejeitos nucleares. Cogita-se a utilização de reservatórios profundos, mas não existe uma proposta internacionalmente aceita", afirma o especialista Pinguelli Rosa.
(Por Thiago Scarelli,
UOL, 26/03/2009)