Intermináveis controvérsias. É o que suscita, há vários anos, a avaliação de danos do acidente nuclear de Chernobyl, ocorrido em 26 de abril de 1986, aos ecossistemas locais. Essas discussões devem ser retomadas com a publicação, na última edição da revista "Biology Letters", dos trabalhos de Anders Moller (CNRS, Universidade Paris XI) e Timothy Mousseau (Universidade da Carolina do Sul). Segundo eles, a radioatividade residual continua a ter, vinte anos após o acidente, um efeito sobre determinados insetos e aranhas.
No entanto, em 2006, o Fórum Chernobyl - reunindo órgãos como a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) - entregou um relatório segundo o qual os ecossistemas situados na "zona de exclusão" tiravam o melhor partido da radioatividade persistente em níveis diversos. "É verdade no nível macroscópico", diz Gérard-Deville Cavelin, coautor do relatório. "Não que a radioatividade lhes seja favorável, é claro, mas a saída do homem da zona favoreceu uma parte da fauna selvagem, em especial, os mamíferos. A população de javalis, por exemplo, aumentou oito vezes".
Na escala de nocividade, o homem estaria posicionado bem acima da radioatividade... Mas, para Anders Moller e Timothy Mousseau, seria preciso olhar mais de perto. Entre 2006 e 2008, os pesquisadores abriram caminho na zona de exclusão medindo, sobre centenas de pontos e ao longo de linhas transversais, a abundância de determinados animais, em paralelo com a intensidade da radioatividade. Nas cinco categorias contadas (abelhas, borboletas, gafanhotos, libélulas e aranhas), as populações diminuem quando a radioatividade aumenta.
Rarefação dos predadoresSegundo Deville-Cavelin, as correlações são poucas, às vezes. Mas, em 2007, os mesmos autores haviam conduzido um estudo de recenseamento dos pássaros e notaram uma tendência idêntica à rarefação, proporcional à radioatividade medida localmente. O que é coerente. "Quando a abundância de insetos diminui, é normal que seus predadores estejam presentes em número menor", explica Moller. Além disso, trabalhos ainda não publicados sugerem, segundo Anders, que o número de frutas contadas nos antigos pomares da antiga zona de exclusão também cai quando a radioatividade se eleva - o que poderia, seguindo essa linha, se explicar por uma redução das populações de insetos polinizadores.
"Essas constatações devem ser estudadas mais a fundo", avalia Deville-Cavelin. "Aumentando o número de observações e, talvez, as durações das contagens, e também tentando diferenciar a natureza da radioatividade". Com a intenção de descobrir qual dos três tipos de radioatividade (alfa, beta ou gama) é a mais nociva aos insetos polinizadores.
(Por Stéphane Foucart, Le Monde /
Uol, 25/03/2009)