A discriminação étnica tem derivado inúmeros fatores negativos na sociedade atual. Muitos deles, inflados no poder que julgam ter sobre diversas minorias, inauguraram um modelo bem antigo, mas que nos últimos anos ganhou mais visibilidade: o racismo ambiental. Como exemplo, entram nessa leva - como principais alvos de transnacionais, mega-projetos e governos - povos indígenas e quilombolas.
De forma conceitual, se pode dizer que o Racismo Ambiental se baseia nas injustiças sociais e ambientais praticadas contra comunidades étnicas vulneráveis. Para discutir o assunto foi realizado,na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC), na Capital cearense, o II Seminário Brasileiro contra o Racismo Ambiental.
O encontro reuniu pessoas ligadas a comunidades atingidas pelo Racismo Ambiental, movimentos sociais, organizações não-governamentais, acadêmicos e pesquisadores. As discussões começaram na segunda-feira (23) e foram encerradas ontem (25), com uma visita à comunidade do Povo Indígena Anacé, localizada no município de São Gonçalo do Amarante, no Ceará.
Tendo como tema "Racismo Ambiental - disputa pelo território e capitalismo; desenvolvimento para quê e para quem?", o Seminário teve o objetivo de debater sobre a dimensão do Racismo Ambiental no Brasil. Além disso, o encontro ainda ampliou as articulações entre os participantes, promoveu intercâmbios de experiências e garantiu visibilidade e mobilização social em torno da questão do Racismo Ambiental.
De acordo com o professor do departamento de geografia da UFC, Jeovah Meireles, o Seminário foi divido em duas partes. O momento inicial, realizado nos dois primeiros dias do encontro, foi destinado à análise e ao congregamento das comunidades participantes. Ele comenta que a questão principal da discussão foi os conflitos de territórios nas comunidades étnicas.
O professor explica que muitos grupos tradicionais têm os territórios em que vivem ameaçados pelos grandes monopólios, sendo, muitas vezes, expulsos do local para o cultivo de monocultura e para a construção de empreendimentos, como barragens e siderúrgicas.
No segundo momento do Seminário, ocorrido hoje, os participantes visitaram a comunidade indígena Anacé que, atualmente, vivencia conflitos territoriais com a construção do Complexo Industrial Portuário do Pecém. Para Meireles, a visita serviu como um momento de solidariedade ao Povo Indígena. Além disso, ele comenta que foi uma oportunidade para que as pessoas tomassem conhecimento das lutas dos índios e as difundissem para as comunidades de outros locais.
O professor afirma que o Seminário serviu para aglutinar questões de Racismo Ambiental sofridas em diversas regiões do País e para discutir e preparar estratégias de enfrentamento. O evento foi encerrado na tarde de hoje com uma plenária de apresentação dos relatórios dos grupos e com a aprovação do documento final de combate à discriminação.
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(Adital, 25/03/2009)