Não bastasse o problema com as finanças globais, a Bayer vem enfrentando crescente resistência e denúncias sobre sua responsabilidade social e ambiental. No país sede da multinacional duas entidades vêm atazanando a vida dos executivos da conhecida fabricante de Aspirina. A Coalisão Contra os Perigos da Bayer (CBG) e a Federação Alemã dos Apicultores Profissionais (DBIB) entraram semana passada com uma ação na justiça pedindo a responsabilização do CEO da companhia, Werner Wenning, pela grande mortandade de abelhas e colméias no Sul do país em 2008.
"Os gerentes e principais executivos da empresa sabem há anos que a Clothianidina é mortal para abelhas e pássaros", acusa Philipp Mimkes, da CBG Alemanha. Realmente o problema é um velho conhecido. A Clothianidina, princípio ativo de agrotóxicos como o Poncho, já havia sido proibida na França em 2004. Na época a substância foi apontada como responsável pela queda de 60% na produção melífera dos apicultores franceses. De lá pra cá, Itália, Eslovênia e a própria Alemanha baniram o uso do produto. Com o detalhe que, nesse último, o Poncho foi reautorizado para aplicação em sementes na cultura de colza. Tudo em nome da segurança da produção agrícola.
"Em julho de 2006 já havíamos enviado uma carta ao Escritório Federal de Proteção dos Consumidores e Segurança Alimentar criticando a liberação da Clothianidina", lembra Manfred Hederer, presidente da DBIB. O argumento dos apicultores é simples. O problema era de conhecimento público há bastante tempo, mesmo assim a empresa seguiu com sua estratégia de ampliar a venda dos agrotóxicos com o princípio ativo mortal para abelhas. Entre as acusações mais graves está a apresentação de estudos científicos parciais, visando a aprovação dos venenos pelas autoridades fito-sanitárias. Nessas "avaliações de impacto", o risco do produto foi colocado como "reduzido", quando na verdade é notória a alta toxidade dele para abelhas e pássaros. Qualquer abelha que entrar em contato com o produto morre. Ou pior, contamina todos com quem tiver contato, ameaçando a colméia inteira.
O advogado das entidades, Harro Schultze, admite que o processo tenha poucas chances de ir adiante. "Entraremos no campo onde Estado e poder econômico se encontram", declara ele, completando que o principal objetivo é aumentar a pressão política para que a companhia apresente todos os documentos disponíveis sobre os pesticidas. "O problema é que praticamente tudo que temos sobre o assunto vem de fontes públicas como artigos de jornal, além das bulas de aplicação dos agrotóxicos", completa ele. Ou seja, falta transparência numa questão que para os ecologistas alemães é de interesse mundial.
No Brasil mesmo, a Bayer age como se estivesse em outro planeta. A assessoria de imprensa da multinacional em São Paulo se limita a dizer que "o problema é na Alemanha". Quer dizer, o agrotóxico que eles vendem para os agricultores brasileiros é melhor e menos perigoso que aquele usado nas terras em volta da matriz da empresa.
(Por Mariano Senna, Ambiente JÁ, 25/03/2009)