Milhares de agricultores ocuparam nesta terça-feira as ruas da capital paraguaia para exigir do governo do socialista Fernando Lugo a implementação das reformas que o presidente prometeu. Este foi o maior protesto do setor desde que o ex-bispo católico assumiu a Presidência.
Cerca de 10 mil agricultores, segundo a polícia, marcharam por Assunção e se reuniram nas praças em frente ao Congresso, onde reivindicaram ações para enfrentar um ano marcado pela crise econômica, seca e baixos preços das matérias-primas no país agroexportador.
Entre as exigências dos agricultores, está um subsídio alimentício por um período de seis meses para as regiões atingidas pela seca, o fornecimento de sementes para o próximo plantio e uma ação regulatória que priorize o crédito.
"Para nós, a mudança nunca chegou, tudo continua como era antes de 20 de abril", disse a jornalistas a dirigente da Federação Nacional Agrícola (FNC), Teodolina Villalba, referindo-se a data em que Lugo venceu as eleições.
O presidente Lugo se comprometeu a analisar os pedidos de subsídios, reforma agrária e combate ao latifúndio entregues hoje por um grupo camponês durante um grande protesto de caráter anual, ocasião em que agricultores brasileiros também foram alvo de reclamações.
Mulheres, idosos e jovens formavam parte do protesto que a FNC conduz desde 1994, na qual manifestantes portavam bandeiras e cartazes exigindo pela reforma agrária.
"Os centros de saúde estão desabastecidos, as escolas não têm carteiras nem livros, e as comunidades continuam sem serviços básicos", acrescentou Villalba durante manifestação que aconteceu sem incidentes, em meio a uma grande operação de segurança feita pela polícia.
Lugo acabou com seis décadas de governo do conservador Partido Colorado com a promessa de lutar contra a pobreza e a corrupção, vencendo com o apoio de grupos agrícolas, sindicalistas e organizações sociais.
Ele adiou uma viagem ao sul do país junto com o presidente do Equador, Rafael Correa, para receber dirigentes que também criticaram o "plano anticrise" elaborado pelo governo por considerarem que não beneficia seu setor.
Lugo deve modificar sua agenda oficial de hoje para receber os agricultores e, posteriormente, prosseguir com as atividades previstas com seu colega equatoriano, Rafael Correa, o qual termina nesta terça-feira uma visita de dois dias ao Paraguai.
"Brasiguaios"Uma das queixas levadas a Lugo por dirigentes da FNC, a maior do Paraguai, diz respeito ao aumento do número dos chamados "brasiguaios" --apelido dado aos milhares de produtores brasileiros que ocupam a faixa fronteiriça com o Brasil.
Em sua maioria, os "brasiguaios" se dedicam ao cultivo da soja, principal fonte de renda do Paraguai, em grandes extensões de terra. Segundo números extraoficiais, quase 200 mil "colonos" brasileiros residem no país vizinho.
A FNC reúne cerca de 270 mil famílias de pequenos lavradores os quais em sua maioria cultivam algodão e cuja produção se encontra em franco retrocesso devido ao avanço das plantações mecanizadas de soja. Dirigentes da federação foram recebidos em uma audiência por Lugo na sede do Governo após a manifestação.
Odilón Espínola, secretário-geral da FNC, declarou em entrevista coletiva que os dirigentes expressaram a Lugo a necessidade do pagamento de subsídios para o setor agrícola após a elaboração de uma análise dos efeitos causados pela seca nos cultivos paraguaios nos últimos meses.
Segundo Espínola, a conversa não discutiu quantidades de recursos financeiros para a ajuda. O secretário-geral assegurou que a seca afetou 90% dos cultivos em algumas regiões do Paraguai e explicou que algumas famílias perderam inclusive sua produção de subsistência.
Lugo disse que os subsídios devem incluir o pagamento ou o perdão das dívidas contraídas pelos camponeses para a aquisição de sementes e outras matérias-primas, assim como a assistência alimentar para as áreas mais afetadas.
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Folhaonline, 24/03/2009)