O Ministério Público Federal (MPF) de Londrina encaminhou, ontem (23), um documento para os chefes dos índios da Reserva Barão de Antonina, localizada em São Jerônimo da Serra, Norte do estado, que mantêm desde a quinta-feira (19) dois funcionários de uma empresa terceirizada da Copel e um antropólogo da Companhia presos, solicitando a libertação imediata dos reféns como condição para a realização de uma reunião, agendada para quarta-feira (25), na qual será assinado o termo de ajustamento de conduta e firmado o valor a ser pago de indenização pela Copel aos indígenas.
Os índios mantêm os três homens como forma de garantir o prosseguimento das negociações com a estatal para o pagamento de indenização pelo uso de terras da reserva, na qual estão instaladas 14 torres de transmissão de energia. Ninguém está conseguindo entrar ou sair da aldeia sem autorização do cacique.
No entanto, segundo o procurador federal José Mauro Luizão, se não houver a liberação das pessoas qualquer acordo assinado entre a Companhia e os índios não terá valor legal. “Caso não ocorra a libertação dos reféns e a estatal assinar o acordo com os índios, a Companhia pode no dia seguinte alegar que foi coagida e contestar a decisão”, comentou. O valor da indenização está definido em R$ 1,1 milhão, corrigidos desde 2005, além da Copel se comprometer em recuperar áreas degradadas na reserva.
Para o promotor a postura dos indígenas está prejudicando apenas os próprios índios. De acordo com Luizão, a atitude dos índios não se justifica mais, pois tanto o MPF quanto a Copel se comprometeram a participar da reunião para a assinatura do acordo de indenização. “Só a comunidade indígena sairá prejudicada se não houver a reunião, pois se a disputa for para a via judicial a decisão final poderá levar anos”, afirmou.
O representante da Fundação Nacional do Índio (Funai), em Londrina, Marcos Cezar da Silva Cavalheiro, disse que o único avanço nas negociações foi a liberação parcial da circulação dos reféns pela aldeia. Segundo Cavalheiro, a expectativa é que com a presença de membros da coordenação de patrimônio e meio ambiente da Funai na cidade, para a reunião agendada para o dia 25, os índios possam libertar os reféns. “Os representantes da Funai de Brasília chegam nesta tarde em Londrina e vamos tentar levá-los até a reserva para que eles participem da negociação. A nossa expectativa é que os reféns sejam libertados antes da reunião, para que o encontro ocorra em um ambiente mais tranquilo”, disse.
Cinco dias de angústiaPara as famílias dos funcionários da empresa terceirizada, José Almir Torres Quintanilha e Valmiron Torres Quintanilha, os últimos cinco dias têm sido de angústia e preocupação. A mulher de Valmiron, Maria Lúcia de Abreu, disse que desde o dia em que o marido foi preso pelos índios tem mantido contatos rápidos por telefone com ele. O último foi na manhã desta segunda-feira. “Ele sempre fala que não é para nos preocuparmos, pois estão sendo bem tratados. No entanto, sempre que pergunto se os índios estão ameaçando, ele diz que não, mas já muda de assunto. Isto me deixa muito preocupada, pois não sabemos o que está acontecendo realmente na aldeia”, comentou.
A mulher de José Almir, Josileine Nogueira dos Santos, também tem mantido contato com o marido. “Ele fala que é para mantermos a calma. Mas é difícil, pois nos primeiros dias, ele disse que os índios ameaçaram muito eles”, relatou. Josileine espera um novo contato do marido nesta segunda-feira, uma data especial para o casal, já que a filha deles comemora aniversário. “Espero que os índios deixem ele ligar para nós, porque nossa filha está fazendo aniversário e está sentindo muito a falta do pai. Também espero que o impasse seja resolvido e todo esse pesadelo termine logo”, disse.
(Por Daniel Costa, Jornal de Londrina /
Gazeta do Povo, 23/03/2009)