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turismo sustentável
2009-03-24
O turismo mundial deve desempenhar hoje, mais do que nunca, um papel no desenvolvimento sustentável e no alívio da pobreza, afirmaram especialistas durante um simpósio realizado na cidade canadense de Quebec. Porém, outros se perguntam se pode ser sustentável um negócio que implica voar milhares de quilômetros para chegar a um eco-hotel na selva, cujo funcionamento é neutro em emissões de gás carbono. O transporte aéreo é um grande contribuinte para a contaminação responsável pela mudança climática, disse o especialista Costas Christ a mais de 500 participantes do Simpósio Internacional sobre Desenvolvimento Sustentável do Turismo, realizado entre 16 e 19 deste mês.

Entretanto, o turismo internacional tem um importante papel na conservação da biodiversidade. “Sem turismo, o Pantanal brasileiro, o maior pântano do mundo, simplesmente teria se transformado em um grande campo de pastagem de gado para o McDonald’s”, disse Christ, ex-presidente do conselho diretor da Sociedade Internacional de Ecoturismo. Se não fosse pelo turismo, a África não teria seus parques e reservas naturais e o Triângulo de Coral (que inclui águas das Filipinas, Indonésia, Ilhas Salomão, Malásia, Papua Nova-Guiné e Timor Leste) teria sido devastado pela pesca, continuou. “O desafio é fazer turismo da maneira correta”, disse Christ em entrevista ao Terramérica.

A indústria do turismo cometeu muitos erros, mas nos últimos anos percebeu que, com a mudança climática e outros problemas decorrentes, não terá futuro se não se tornar sustentável, afirmou o especialista. A própria essência do turismo é vender cultura e natureza, e “os empresários e políticos têm de compreender” que devem protegê-las, ou simplesmente não haverá indústria, ressaltou. Mesmo o turismo de massa – às vezes chamado de “de praias” – depende da natureza, embora Christ acredite que as pessoas estejam se afastando desse tipo de férias.

Na última década, a atividade turística experimentou crescimento fenomenal. Em 2008, houve 920 milhões de viagens internacionais, 2% a mais do que no ano anterior, apesar de a economia mundial estar em crise, segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT). Em 2007, esta indústria faturou US$ 5 bilhões, equivalentes a 9% do produto bruto mundial. O turismo também representa, direta ou indiretamente, mais de 200 milhões de postos de trabalho em todo o mundo.

Este ano, a OMT espera uma redução de quase 2% no setor. Muitos presentes no simpósio de Quebec asseguraram que os hoteis já estão vazios. Segundo Christ, “a crise econômica é uma oportunidade para refletir sobre como fazer turismo corretamente”. É isso que fazem as cem maiores empresas do setor, afirmou. O Conselho Mundial de Viagens e Turismo, que as reúne, anunciou em fevereiro que seus membros se comprometeram a abordar sua responsabilidade na mudança climática e reduzir em 30% suas emissões de carbono até 2020, em relação aos níveis de 2005. Se o turismo conseguir ser menos agressivo com o meio ambiente, também poderá aliviar a pobreza, disse Francesco Frangialli, ex-secretário-geral da OMT.

Frangialli se refere à iniciativa Turismo Sustentável - Eliminando a Pobreza (ST-EP), anunciada pela OMT na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em 2002, em Johannesburgo, na África do Sul. Hoje, existem 70 projetos ST-EP em todo o mundo. Trata-se de dirigir o dinheiro gasto pelos turistas e os investimentos vinculados para melhorar a renda e a qualidade de vida dos pobres. No delta do Rio Mekong, no nordeste do Camboja, um projeto ST-EP leva turistas para verem o golfinho de rio (família Platanistoidea), uma espécie à beira da extinção. Os visitantes pernoitam nas aldeias da região, consomem produtos locais, compram artesanatos feitos ali e vão ver os animais guiados por ex-pescadores.

Todo esse circuito dá aos moradores da região capacidade para proteger os menos de cem animais que ainda subsistem, disse Frangialli. “O turismo está salvando uma espécie que, de outro modo, provavelmente desapareceria”, assegurou. Este tipo de turismo, às vezes chamado de ecoturismo, representa no máximo 3% a 4% do setor. O turismo maciço ainda constitui mais de 50% dos negócios e deve evoluir e se tornar sustentável, afirmou. Tal como ocorre com o desenvolvimento sustentável, o turismo sustentável “é um conceito tão vago que ninguém está contra ele, mas pode significar nada”, disse Richard Butler, professor da Universidade de Strathclyde, na Escócia.

Portanto, há muitas políticas de desenvolvimento sustentável, mas não muita ação, disse em uma entrevista ao Terramérica. Da perspectiva da mudança climática, quando os turistas voam milhares de quilômetros para chegar a uma aldeia da selva amazônica, não importa em absoluto se esta é neutra em carbono ou não, disse Butler. E, embora esse projeto possa ajudar a aliviar a pobreza nesse lugar, “como levar os turistas a esses lugares de maneira sustentável?”, perguntou. Para avançar rumo à sustentabilidade, é importante observar os destinos escolhidos pelos turistas.

“Alguns lugares, como a Antártida, deveriam estar fora das opções turísticas”, disse Butler. Estabelecer limites ao turismo é necessário, mas não é fácil, reconheceu este professor, para quem o objetivo primordial deve ser “que não restem impactos negativos”. Nenhum destino turístico pode ser chamado sustentável sem sistemas de controle efetivos, concluiu.

(IPS / Envolverde, 23/03/2009)

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