Mesmo antes de o Supremo Tribunal Federal (STF) concluir o julgamento da ação que pedia a revogação do decreto que definiu a demarcação contínua de 1,7 milhão de hectares da reserva Raposa/Serra do Sol, lideranças indígenas ligadas à Sodiur (Sociedade de Defesa dos Índios do Norte de Roraima) alertam para o possível conflito entre índios na disputa pela terra.
A opinião é do tuxaua da comunidade do Flexal, município de Uiramutã, Abel Barbosa, secretário-geral da Sodiur. Ele procurou a Folha para rebater as declarações do coordenador-geral do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Dionito José de Souza. O coordenador criticou o voto do ministro Marco Aurélio de Mello e disse que índios iriam ocupar as fazendas de arroz e descansar a terra por três anos antes de trabalhar nela.
“Se eu chegar na sua casa e querer mandar, a senhora não vai aceitar, né? Assim também vai ser com a gente. Ele (Dionito) quer ser o governador da Raposa, vai querer mandar, mas não será do jeito que ele está pensando. Vai ter briga de índio contra índio, vai ter derramamento de sangue, porque a gente não vai aceitar isso”, disse Abel Barbosa, de Brasília, no intervalo do julgamento no STF.
Ao chamar um ministro da maior Corte do País de incompetente e “babaca”, Abel Barbosa disse que houve um desrespeito. “Ele, como autoridade, precisa ter cuidado com as palavras, porque tá falando de uma autoridade máxima do País. É preciso respeitar um ao outro e isso não aconteceu. O ministro, como brasileiro, quer que todos os indígenas vivam em paz”, frisou.
Segundo o tuxaua, os ministros votaram sem ouvir todos os segmentos, em especial aqueles que discordam da área contínua, acreditando que os moradores da Raposa/Serra do Sol ainda vivem como os yanomami, que moram no meio da mata e sobrevivem da caça e pesca.
Abel Barbosa informou que essa não é a realidade, que os indígenas da área em litígio não vivem mais assim. “Somos aculturados, temos filhos estudando na cidade, fazendo faculdade. Queremos o desenvolvimento, não vivemos isolados. A gente quer criar, plantar, comprar e vender gado, produzir”, defendeu o tuxaua.
(Por Rebeca Lopes, Folha da Boa Vista/
Amazonia.org, 21/03/2009)