A morte de mais um mineiro, desta vez por choque elétrico, alerta o setor de mineração no que diz respeito à segurança no trabalho. Este é o segundo óbito em subsolo de mina de carvão neste ano e o quarto pelo mesmo motivo na Carbonífera Metropolitana, em Treviso, Sul do Estado, onde Robson Spader Ronchi, 31 anos, trabalhava.
O mineiro-eletricista fazia a manutenção de um painel de controle de movimento de uma correia transportadora de carvão em uma mina de Treviso. Durante o trabalho, sofreu um choque elétrico, às 21h30min de quinta-feira. Ontem, o corpo foi velado no pátio do edifício da família, no Bairro São Defende, em Criciúma, e sepultado no cemitério do bairro.
A morte comoveu família, amigos e companheiros de trabalho. O pai, Carlos Ronchi Neto, 56, ex-mineiro-eletricista, tentava conter a emoção durante o velório, já que sofre de doenças cardíacas.
– Meu filho era alegre, gostava de pescaria e futebol. No dia de sua morte, conversamos bastante. Ele havia retornado das férias fazia 15 dias e tinha planos de mudar de emprego, reclamava de cansaço, mas não deu tempo – lamentou.
Na manhã de ontem, o Ministério do Trabalho e o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) realizaram uma inspeção no local do acidente para formular um laudo.
O presidente do sindicato dos mineiros em Cocal do Sul, Siderópolis e Treviso, Leonor José Rampinelli, não acredita que o acidente tenha sido uma fatalidade, pois já é a quarta vez (2001, 2005, 2008 e 2009) que acontecem sinistros pelo mesmo motivo na Carbonífera Metropolitana.
– No painel em que Robson trabalhava não havia o equipamento DR instalado. É um dispositivo que funciona como disjuntor e corta a passagem de corrente elétrica. Se esse DR estivesse ali, evitaria a morte do rapaz – disse Rampinelli.
Em nota oficial, a empresa mineradora reconhece o acidente, mas destaca que prefere se pronunciar sobre o caso após a conclusão do laudo oficial.
Em 15 meses, foram sete óbitosEm 2008, foram registradas cinco mortes em minas e em 2009 já são duas em menos de uma semana.Para o coordenador da Comissão Regional do Setor Mineral, Roberto Lodetti, dois fatores contribuem para o aumento dos acidentes: o acréscimo no volume de produção e a contratação de trabalhadores com pouca experiência ou falta de treinamento.
De acordo com Lodetti, não há cuidado com o trabalho nas mineradoras.
– As empresas parecem não aprender com os acidentes anteriores, com os menores, e não estudam a causa deles para evitar os maiores – observou.
Três pontos importantes norteiam a qualidade das atividades nas minas: controle de gases, eletricidade e procedimentos de extração.
O coordenador afirma que, durante as inspeções, não se verifica mais a concentração de gases nas galerias. Quanto às condições elétricas, as minas estão em fase de adaptação de uma série de medidas exigidas. Nos procedimentos de extração, a comissão já pontuou aspectos para melhorar o ambiente e evitar quedas de teto ou laterais de galerias.
No próximo dia 3 de abril, a comissão se reunirá para discutir os dois últimos acidentes e a necessidade de novas regras de segurança.
(Por Ana Paula Cardoso,
Diário Catarinense, 21/03/2009)