A ONG Survival International, sediada em Londres, divulgou uma nota em que acusa os autores do controverso filme "Hakani", que já foi visto por mais de 350 mil pessoas no Youtube, de incitar o ódio racial contra os índios brasileiros. A organização quer chamar a atenção da sociedade para o 21 de março, para o Dia Internacional da Eliminação da Discriminação Racial, instituído pela ONU.
O filme trata como sendo verídica a história de uma criança índia brasileira enterrada viva pelo seu povo. A Survival afirma que o filme é uma encenação. Segundo a organização, a terra cobrindo o rosto da criança é na verdade bolo de chocolate e as alegações, divulgadas pelo filme, de infanticídio entre os índios brasileiros são falsas.
- As pessoas estão sendo ensinadas a odiar os índios, até mesmo a desejar que morram. Os comentários no site do YouTube dizem coisas como: ‘Então vamos aniquilar essas tribos. Elas fedem." E ‘Esses amazônicos filhos da p*** que enterram criancinhas, matem todos’ - - afirma o diretor da Survival, Stephen Corry.
Segundo Corry, o filme se baseia no que eles alegam acontecer rotineiramente em comunidades indígenas, mas não é assim.
- O infanticídio é raro na Amazônia. Quando acontece, a decisão cabe à mãe e não é tomada com leveza. A decisão é tomada em privado e secretamente e é muitas vezes vista com vergonha, sempre como algo trágico - assinala.
Segundo a Survival, "Hakani" foi realizado por David Cunningham, filho do fundador de uma organização missionária fundamentalista americana, chamada "Jovens Com Uma Missão", que tem um ramo no Brasil conhecido como Jocum.
Corry disse que os missionários tentam escamotear seu envolvimento no filme. Ele considera o filme como parte da campanha dos missionários para colocar pressão sobre o governo brasileiro para que este aprove um projeto de lei controverso, conhecido como a "Lei Muwaji".
- Isso forçaria os cidadãos brasileiros a participar às autoridades qualquer coisa que achassem ser uma "prática tradicional danosa" - uma lei que fomentaria caça-às-bruxas, faria o Brasil retroceder séculos e poderia provocar desajustes sociais catastróficos - avalia o diretor.
(Por Altino Machado, Terra Magazine /
Amazonia.org, 19/03/2009)