O 5º Fórum Mundial da Água, que se estende até sábado (21/03) na cidade turca de Istambul, é palco de discussões sobre a gestão pública ou privada deste recurso natural. A delegação uruguaia, assim como outros países sul-americanos, defende que o acesso à água seja tido como um direito constitucional e que sua gestão seja totalmente estatal.
O problema, segundo Emanuele Lobina, pesquisador sobre serviços públicos da Universidade de Greenwich (Reino Unido), é que o Banco Mundial, um dos principais atores dentro do Conselho Mundial da Água e também do Fórum, mantém uma posição "teimosa" a favor do mercado.
Por sua vez, as multinacionais do setor de água buscam explicar a posição do setor privado, cuja imagem foi deteriorada pelo ativo trabalho de acadêmicos e ONGs. Gérard Payen, presidente da AquaFed, uma federação que reúne cerca de 300 empresas (mais da metade do setor privado), diz que essas companhias não são "um grupo de pressão que luta contra a gestão pública".
Para Payen, "a água tem que ser mais bem administrada, pois milhões de pessoas esperam melhores serviços. Há gente que ainda espera que o setor público dê acesso à água, um acesso que não chega".
O presidente da AquaFed é considerado um dos "senhores da água" por ativistas críticos como Maude Barlow, conselheira da ONU, que exige declarar a água um 'direito humano fundamental' para que deixe de ser um bem comercial.
Em entrevista à Agência Efe, Lobina disse que "a gestão privada dos recursos hídricos, cujo auge ocorreu na década de 90 nos países em desenvolvimento, e especialmente na América Latina, mostrou ser fracassada".
O pesquisador explica os problemas da atuação privada: "as empresas não investiram todo o dinheiro que deveriam e aumentaram as tarifas de água de forma insustentável. Portanto, este modelo encontrou muita resistência popular" --muitas delas abandonaram as concessões de águas de grandes cidades da América Latina.
"O setor privado tem um objetivo principal: maximizar os lucros. O setor público, embora não seja perfeito, não tem um objetivo rígido, sendo mais flexível no momento de experimentar novos métodos de participação", acrescenta Lobina.
(Efe /
Folha Online, 19/03/2009)