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2009-03-19
O vapor d'água gerado na Amazônia e transportado pelas massas de ar tem impacto decisivo sobre o clima nas demais regiões do Brasil e principalmente sobre o ciclo de chuvas no Sul e no Sudeste. Essas são algumas das conclusões a que chegou a equipe do Projeto Rios Voadores, coordenado há dois anos pelo engenheiro e ambientalista Gérard Moss, com patrocínio de R$ 3,45 milhões do Programa Petrobras Ambiental e parceria da Agência Nacional de Águas (ANA). As conclusões foram divulgadas quarta-feira (18/03), em São Paulo.

As informações recolhidas pela equipe de pesquisadores permitirão mostrar até que ponto o desmatamento da região amazônica poderá afetar o clima brasileiro e como tal degradação pode alterar o ciclo hidrológico, que se refere à distribuição e circulação da água na natureza. Dessa forma, será possível compreender melhor as causas tanto das grandes tempestades quanto dos extensos períodos de seca.

"O objetivo do estudo é entender melhor o trajeto percorrido por esses verdadeiros rios voadores, que viajam sobre nossas cabeças e podem ter volume maior que a vazão de todos os rios do Centro-Oeste, Sudeste e Sul", explica Gérard, que já fez 12 viagens sobrevoando o Brasil em um avião monomotor. Nessa expedição, ele recolheu cerca de 500 amostras de vapor d'água em diferentes camadas atmosféricas, entre 500 e 2 mil metros acima do nível do mar.

As amostras são recolhidas em um coletor externo instalado no avião, que capta o ar ambiente e o direciona a um tubo de vidro, que por sua vez é resfriado em gelo seco (-80ºC), para condensar a umidade em uma gota dentro do tubo. A partir daí, as amostras são analisadas no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), em Piracicaba (SP). Com base nas propriedades dessa gota d'água são definidos origem, dinâmica e deslocamento da água carregada pela massa de ar.

A coordenação científica do Projeto Rios Voadores é de Enéas Salati, agrônomo diretor Técnico da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS). Estudos realizados por ele há 30 anos revelaram que 44% do fluxo de vapor d'água que penetra na região amazônica vindo do Oceano Atlântico condicionam o clima da América do Sul e atingem as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Essas pesquisas são utilizadas até hoje como base para o conhecimento hidrológico da região e foram fundamentais para a elaboração do Projeto Rios Voadores.

Efeitos do desmatamento
De acordo com dados do Projeto Rios Voadores, existe uma forte recirculação de água entre a superfície e a atmosfera, causada pela transpiração das plantas que compõem a floresta, o que contribui para os altos níveis de precipitação na Amazônia, que chegam a ultrapassar 2.400 mm/ano. Por isso, a destruição da floresta provoca alterações, ainda difíceis de quantificar.

"Uma árvore de grande porte coloca cerca de 300 litros de água por dia na atmosfera. Sua retirada não atinge somente a Amazônia, mas todas as outras regiões para onde a água é transportada pelos ventos. Tivemos no Brasil cerca de 600 mil quilômetros de terras desmatadas nos últimos 30 anos. Ainda não sabemos mensurar com precisão qual o impacto sobre o clima", observa Gérard Moss.

Conforme o coordenador da pesquisa, apesar de a Amazônia legal representar, em média, 10% da população e do PIB do país, recebe pouco investimento em tecnologia. "É justamente lá que deveria haver muito mais investimento. O clima de São Paulo não tem impacto sobre a Amazônia, mas a região amazônica faz toda a diferença no restante do Brasil e até mesmo em outros países", completa o pesquisador.

O Rios Voadores também tem o objetivo de aproximar a população dos grandes centros urbanos das questões relacionadas ao meio ambiente que a afetam diretamente, além de alertá-la sobre a importância do uso racional da água. Entre as cidades visitadas por Gérard durante a expedição do Rios Voadores estão Belém, Santarém, Manaus, Alta Floresta, Porto Velho, Cuiabá, Uberlândia, Londrina e Ribeirão Preto.

O Rios Voadores é um desdobramento do Projeto Brasil das Águas, que foi selecionado pelo Programa Petrobras Ambiental em 2003.

Água e clima são os temas do Programa Petrobras Ambiental
A Petrobras está desenvolvendo, desde o ano passado, uma nova etapa do Programa Petrobras Ambiental, que até 2012 destinará R$ 500 milhões a ações estratégicas, incluindo patrocínios, fortalecimento das organizações ambientais e suas redes e disseminação de informações sobre o desenvolvimento sustentável. O Programa tem como tema "Água e clima: Contribuições para o desenvolvimento sustentável", o que representa uma ampliação em relação à fase anterior, cuja temática abrangia a água e sua biodiversidade. A mudança teve como objetivo adequar o Programa ao cenário ambiental atual e previsto para os próximos anos, alinhando as ações aos novos desafios de gestão da Companhia, no que se refere à responsabilidade social e mudanças climáticas.

O Programa Petrobras Ambiental abrange, além dos projetos escolhidos por seleção pública, iniciativas que já eram apoiadas antes da criação do programa, por também se enquadrarem à política de patrocínio da Companhia. Dessa forma, a Companhia busca valorizar a carteira de projetos que, por tradição, ao preservarem os recursos naturais e o desenvolvimento humano, aproximam ainda mais a Petrobras da defesa do meio ambiente e da melhoria da qualidade de vida das comunidades.

As três linhas de atuação do Programa Petrobras Ambiental 2008-2012 são:
    *  Gestão de corpos hídricos superficiais e subterrâneos, com ações voltadas para reversão de processos de degradação dos recursos hídricos e promoção e práticas de uso racional desses recursos;
    *  Recuperação ou conservação de espécies e ambientes costeiros, marinhos e de água doce;
    *  Emissões evitadas de carbono, com base na recuperação de áreas degradadas, reconversão produtiva (mudança na atividade econômica) e conservação de florestas e áreas naturais;

As duas primeiras seleções públicas realizadas, em 2004 e 2006, contemplaram projetos selecionados que desenvolvem ações a partir da promoção e conscientização sobre o uso racional dos recursos hídricos; da manutenção e a recuperação das paisagens visando ao equilíbrio do ciclo hidrológico; e da promoção da gestão ambiental voltada para a preservação das espécies ameaçadas e a conservação dos ambientes marinhos ameaçados.

Em 2008, foi realizada a terceira seleção pública, que contemplou 47 de 892 projetos inscritos. Eles receberão, no total, R$ 60 milhões para iniciativas a serem desenvolvidas até 2010.
    
(Texto recebido por E-mail, Gerência de Imprensa da Petrobras, 18/03/2009)

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