Quarto maior emissor mundial, com 5% da cota planetária, o Brasil joga um papel importante na medida em que tem potencial para diminuir em 70%, até 2030, suas emissões de gases de efeito estufa com medidas de custos relativamente baixos. Esta é a principal conclusão de estudo apresentado, na semana passada, pela McKinsey & Company, em evento do Planeta Sustentável da editora Abril.
A sopa de números analisados pelos especialistas da consultoria é especialmente alentadora para o Brasil. Na prática, há aqui o que e onde cortar. Ao contrário de alguns países mais ricos, a fonte primeira de emissões se concentra no campo florestal. Apenas o desmatamento, o nosso mais conhecido Calcanhar de Aquiles, responde por 55% dos 2,8 milhões de toneladas de carbono. Estima-se que daqui a 20 anos represente 43%. O que compensa, em parte, o impacto da destruição das florestas são, de um lado, as baixas emissões geradas por uma matriz energética mais limpa (a hidrelétrica) e de outro, a presença marcante do etanol na frota brasileira. Isso coloca o país em situação melhor se comparado ás nações sujonas onde se queima muito carvão e muita gasolina para gerar luz e mover carros.
Ainda assim, emite-se aqui 12 toneladas de carbono por habitante, marca ligeiramente acima das 10 toneladas registradas nos países industrializados. Excluída a dura parte relativa ao setor florestal, ficaríamos bem na fita com moderadas cinco toneladas. Mas como se imagina uma expansão da economia - para depois da crise, é claro - a intensidade de carbono deve subir para 14 toneladas per capita, ou 7,5 toneladas per capita, tirando o peso do desmatamento - ainda um pouco acima da média global.
A primeira constatação do estudo da McKinsey é que o Brasil não só pode - mas deve - reduzir suas emissões para 0,9 milhão de toneladas nos próximos 20 anos, esforço para o qual poderá explorar 120 oportunidades em todos os setores de sua economia. Pela ordem de potencial de abatimento em emissões, os setores florestal, de agricultura, transportes terrestres e resíduos aparecem entre os mais expressivos.
A Amazônia em pé - confirmando o que já se sabia - é um excelente negócio para o futuro do planeta. Corresponde a 72% das oportunidades de abatimento brasileiras. O cálculo se baseia no seguinte raciocínio: para aproveitar ao máximo suas possibilidade de redução de emissões, o País precisa desembolsar R$ 16,5 bilhões nas duas próximas décadas, fazendo investimentos no fortalecimento de instituições, no reforço do controle e fiscalização do Estado, no aumento da produção sustentável de madeira e outros produtos florestais e na geração de empregos e melhoria dos índices de desenvolvimento humano das pessoas que moram em áreas atingidas pelo desmatamento. Parece muito, mas não é, analisando o número sob a perspectiva do PIB nacional de R$ 2,6 trilhões (2007). Melhor ainda: uma parcela importante do investimento poderá advir do mercado internacional de créditos de carbono, um balcão de negócios sustentáveis pouco explorado pelo Brasil.
As atividades de agricultura e pecuária emitem 25% dos gases de efeito estufa brasileiros. Para 2030, projeta-se que cheguem a 30%, ou seja, 820 mil toneladas de carbono. Metade vem da pecuária, mais especificamente de uma combinação explosiva de gás metano e resíduos orgânicos produzidos por um rebanho de 200 milhões. A outra decorre de práticas agrícolas inadequadas, entre as quais as famosas queimadas e o abuso de fertilizantes feitos à base de nitrogênio. O estudo da McKinsey avalia que, com mudanças no modo de plantar e gerir nutrientes e resíduos, mais pesquisa e regulamentação, o Brasil possa diminuir em 14% suas emissões.
Em todo o mundo, o setor de transportes rodoviários lança 13% dos gases, representando a segunda maior fonte de emissões. No Brasil, contribuem com apenas 6%. Considerando o aumento da frota e a expansão da tecnologia flex, com mais uso de gasolina, espera-se que produzam 280 mil toneladas de carbono em 2030. Mas essa projeção pode baixar em 25% com melhorias tecnológicas nos carros e com o aumento do uso de biocombustíveis.
O segundo maior potencial de abatimento, fora os setores ligado à terra, concentra-se nas atividades de tratamento de resíduos sólidos e efluentes., fortemente geradores de metano e óxido nitroso. Com 53 mil toneladas de carbono, o Brasil está entre os 10 maiores emissores neste campo. A redução passa por adotar medidas de reciclagem, compostagem e captação de gases em aterros. Há tecnologia farta. Apesar de terem custo negativo (benefícios associados superiores aos gastos), tais iniciativas esbarram na necessidade de mudanças importantes em hábitos e costumes.
Somados os R$ 16,5 bilhões destinados á conservação da Amazônia com os R$ 23, 2 bilhões para custear o conjunto das iniciativas dos outros setores, o gasto total necessário ficará em torno de 1% do PIB do Brasil. Um valor modesto a julgar os claros benefícios que proporciona para a garantia da perenidade de ecosserviços essenciais à vida como água limpa, ar respirável, solo fértil e clima estável.
No Brasil, emite-se 12 toneladas de carbono por habitante; a média dos países industrializados é de 10 toneladas por habitante
* Ricardo Voltolini é publisher da revista Ideia Socioambiental e diretor da Ideia Sustentável: Estratégia e Conhecimento em Sustentabilidade)
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(Por Ricardo Voltolini, Revista Idéia Socioambiental,
Envolverde, 18/03/02009)