Após acompanhar parte do julgamento da constitucionalidade da demarcação em faixa contínua da Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR) em uma televisão com transmissão via satélite, um grupo de indígenas favoráveis à permanência dos grandes produtores de arroz na reserva elogiou o voto do ministro Marco Aurélio Mello.
Mello votou pela anulação da demarcação contínua, homologada em abril de 2005 pelo governo federal.
“Foi o melhor voto entre os nove ministros que se manifestaram até agora. Ele demonstrou conhecimento de causa. Os outros foram imaturos, tendenciosos, a favor do pessoal ligado ao CIR [Conselho Indígena de Roraima]”, apontou o macuxi José Brazão, uma das lideranças ligadas aos produtores de arroz.
Entre os indígenas que vivem na entrada da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, uma parte – organizada pelo CIR – defende a demarcação contínua com retirada dos rizicultores e a outra é favorável à permanência das grandes propriedades e dos não-índios que vivem na área.
Os grupos divergem até em relação ao nome da pequena vila, na entrada da reserva. Os indígenas ligados ao CIR chamam o local de Comunidade do Barro, em referência à matéria prima utilizada para fazer potes e vasos encontrada em abundância na área, de acordo com Martinho Macuxi, um dos coordenadores do conselho.
Já os índios que defendem a permanência dos brancos na reserva preferem chamar o local de Vila Surumu, nome oficial do lugar que é um distrito do município de Pacaraima, próximo à terra indígena.
A tuxaua (cacique) Elielva dos Santos ainda acredita em uma mudança no resultado do julgamento. Até agora, oito ministros votaram pela manutenção da demarcação contínua. “A esperança é a última que morre. Nós que acreditamos em Deus sabemos que ele pode mudar qualquer resultado”, afirmou.
Segundo Elielva, os parentes ligados ao CIR estão tão confiantes na manutenção da demarcação contínua que ameaçam os outros moradores de expulsão após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). “Se eles acham que vão dominar a reserva, estão completamente enganados. Nós somos tão brasileiros e tão índios quanto eles.”
De acordo com a tuxaua, a maioria das famílias que residem na Comunidade do Barro/Vila Surumu é favorável à demarcação da reserva em ilhas, com a possibilidade de permanência dos não-índios, principalmente dos grandes produtores de arroz.
A diferença de posições entre os grupos deverá gerar conflito, segundo Elielva. “Ninguém vai agüentar provocação. Independente do resultado de hoje [do julgamento do STF], o Surumu ainda vai continuar sendo um lugar de conflito”, prevê.
(Por Luana Lourenço,
Agência Brasil, 18/03/2009)