Alguns dos últimos indígenas não contatados do mundo estão fugindo do Peru para o Brasil para escapar do desmatamento ilegal. A conclusão é apresentada no relatório "Cronologia de Evidências da Fuga de Indígenas Não Contatados do Peru ao Brasil", divulgado terça-feira (17) pela organização Survival International. Desde 2004, trabalhadores da Fundação Nacional do Índio (Funai) vêm coletando evidências dessa situação.
Além de fotografias de suas flechas, de ocas levantadas por eles, também foram encontradas tábuas de caoba flutuando pelo Rio Envira, onde a Funai tem um posto de proteção etno-ambiental. Essas tábuas procedem da extração ilegal de madeira que se realiza em uma zona do Peru onde se sabe que vivem os indígenas isolados.
No documento, José Carlos Meirelles, que dirige a equipe da Funai, declara que existe migração forçada de grupos autônomos no Peru, provocada pela exploração madeireira nas cabeceiras dos rios Juruá, Purus e Envira e que a situação só será resolvida quando os indígenas forem deixados em paz do outro lado da fronteira.
Segundo Survival International, os madeireiros têm invadido ilegalmente a terra dos indígenas isolados do Peru em busca de algumas das últimas árvores de caoba comercialmente viáveis no mundo. Frequentemente vão armados e expõem os indígenas a doenças frente às que não têm imunidade. Estima-se que a metade da comunidade indígena Murunahua foi aniquilada desde que os madeireiros forçaram o primeiro contato com eles em 1996.
"Os indígenas não contatados enfrentam literalmente o grave risco de extinção se entram em contato com os madeireiros e outros não indígenas. As doenças introduzidas supõem o maior perigo mortal para os povos indígenas não contatados, que não desenvolveram imunidade contra vírus como a gripe, o sarampo e a varíola, que padecem a maior parte das sociedade que os rodeiam", indica o informe.
A organização publica o relatório enquanto a Funai prepara a construção de outro posto de proteção de povos indígenas isolados em uma zona similar da selva. Além disso, a Funai finalizou recentemente a demarcação de uma nova reserva para os povos indígenas, de modo que agora são três as áreas destinadas aos indígenas isolados nessa região.
Survival International insta o governo peruano a proteger as terras de indígenas não contatados trasladando todos os madeireiros e proibindo a entrada a qualquer forasteiro; assim como proibir a extração, por qualquer meio, de recursos naturais em suas terras.
"A Constituição peruana garante os direitos coletivos territoriais dos povos indígenas, como a Convenção 169 da Organização Internacional de Trabalho (OIT), firmada pelo Peru. É crucial que o governo peruano respeite essas normativas. Na atualidade, esses indígenas não contatados se encontram em gravíssimo risco e enfrentam a extinção", destacam.
(Adital, 18/03/2009)