Este dia 14 de Março foi marcado por uma série de protestos e manifestações em todo Brasil, trata-se do Dia Internacional de Luta Contra as Barragens. Como já comentei em outras oportunidades neste espaço, as hidrelétricas são geradoras de grande impacto social e ambiental. As hidrelétricas afogam a vegetação, matando a biodiversidade, desalojam populações, acabando com a história e a cultura, gerando êxodo e implemento da miséria nas periferias dos centros mais urbanizados, além de contribuir fortemente para o aquecimento global.
Relatório da Comissão Mundial de Barragens das Organizações Unidas (ONU), alerta que cerca de 80 milhões de pessoas foram atingidas direta ou indiretamente pela construção de usinas hidrelétricas no mundo. Segundo o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), no Brasil as barragens já expulsaram de suas terras cerca de 1 milhão de pessoas, com mais de 34 mil Km² de hectares de terras alagadas pelos reservatórios.
Recentemente o novo e desinformado presidente da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hubner, disse que as hidrelétricas são “uma energia mais limpa e barata como requerem as preocupações com o aquecimento global”. Isto não é verdade. Os reservatórios criados pelos barramentos hidrelétricos contribuem significativamente para o implemento do aquecimento global, na medida em que a vegetação existente no leito do lago formado pela barragem começa a entrar em decomposição e liberar metano, gás do efeito estufa três vezes mais potente e prejudicial que o dióxido de carbono.
Conceitualmente as hidrelétricas são consideradas alternativa limpa de energia comparando-se a termoeletricidade – carvão, petróleo, etc. Mas estudos realizados por Philip Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), comparam a emissão de gás carbônico e metano produzidos por usinas hidrelétricas e a queima de petróleo, tendo como resultado a mesma quantidade de energia gerada, demonstra uma outra realidade.
Os dados apresentados pelo estudo são surpreendentes. Em alguns casos, a comparação entre as emissões de gases-estufa gerados pela energia hidrelétrica pode chegar a 22 vezes superior a quantidade gerada pela energia fóssil, gerando no final a mesma quantidade de energia. Este é o caso da Hidrelétrica de Balbina no Amazonas, conhecida pela sua grande área inundada e pouca eficiência energética.
As hidrelétricas de Balbina, Samuel em Rondônia, Curuá-Una e Tucuruí no Pará, são um exemplo da incapacidade Estatal de incluir as variáveis ambientais em seus projetos, ficando a biodiversidade e a tradição dos povos da floresta a mercê da ganância e do poder empresarial – empreiteiras, construtoras e os consumidores industriais – cimento, metalurgia, petroquímica, celulose e alumínio, grandes parceiros de sucessivos governos e fontes de financiamento de campanhas políticas.
Pode-se perceber que a contabilidade das emissões dos gases-estufa das hidrelétricas é feita de forma levianamente equivocada pelos projetistas e que os relatórios omitem os números reais, passando a falsa impressão que a energia hidrelétrica é renovável e limpa.
Rios livres de barragens!
(Por Felipe Amaral*, Agência Chasque, 18/03/2009)
* Ecólogo e integrante do Instituto Biofilia (http://www.institutobiofilia.org.br)