O Protocolo de Montreal, que cuida de banir os gases que destroem a camada de ozônio da Terra e, desta forma, aumentam a incidência de casos de câncer de pele, fez mais para o clima do planeta do que o próprio Protocolo de Kyoto, este sim, o documento internacional que procura reduzir a emissão de gases que provocam o aquecimento da Terra.
"Dependendo do país, os cortes de emissões de gases que arruinam a camada de ozônio, respondem por 3% a 5% das emissões de gases do efeito-estufa", disse, em São Paulo, Roberto de Aguiar Peixoto, membro do comitê de opções técnicas em refrigeração e ar condicionado do PNUMA, o Programa das Nações Unidas pelo Meio Ambiente. Trata-se de uma constatação curiosa - o mundo, tentando equacionar um problema, o da camada de ozônio, acabou acertando outro, o do aquecimento da Terra.
Nos anos 80, um erro comum era confundir um fenômeno com outro. O buraco na camada de ozônio é causado pelos gases CFCs, os clorofluorcabonos, que a humanidade decidiu banir há 20 anos, com a Convenção de Viena e o Protocolo de Montreal. Os CFCs eram muito utilizados em geladeiras e aparelhos de ar-condicionado, mas quando escapavam à atmosfera, destruíam a camada de ozônio, uma proteção natural para os raios ultravioleta.
Com a camada de ozônio rarefeita, a radiação é mais intensa e aumentam os casos de câncer de pele e catarata. Desde 1999 não se produzem mais veículos com estes gases no Brasil e, desde 2001, nenhuma geladeira. Os CFC ainda são utilizados no Brasil em aerossóis para asmáticos.
O efeito estufa, por outro lado, é um desafio bem mais complicado. O fenômeno é provocado por gases provenientes da queima de combustíveis fósseis ou de desmatamento, a humanidade tenta resolver o problema através da Convenção-Quadro de Mudanças Climáticas e do Protocolo de Kyoto - e agora, de um esperado acordo em Copenhague, no fim deste ano. O efeito disso é o aquecimento da Terra. "Acontece que existe uma ponte entre estas duas questões ambientais", diz Peixoto.
A ponte são os chamados gases fluorados (HFCs, PFCs e SF6, substitutos dos velhos CFCs, mas que são gases do efeito-estufa e muito nocivos para o aquecimento global. Os HFCs também têm prazo para serem substituídos, pelo bem-sucedido Protocolo de Montreal. "Eliminá-los é também um benefício para o clima. É preciso uma convergência das duas convenções", defende Peixoto.
(Por Daniela Chiaretti,
Valor Econômico, 18/03/2009)