O jornal The New York Times publicou em 12 de fevereiro a reportagem “Ethanol, just recently a savior, is struggling” (Etanol, recentemente um salvador, agora luta para viver), assinada por Clifford Krauss. O repórter informa no texto que as metas presentes na lei sobre energia editada pelo Congresso dos EUA em 2007 dificilmente serão atingidas. A lei estabeleceu padrão mais rígido para a eficiência energética dos veículos e metas para a utilização crescente de biocombustíveis. À época, a imprensa dos EUA registrou os limites constantes da lei como vitória das indústrias automobilística e do petróleo.
Agora, a queda do consumo de combustível nos EUA, resultado do aprofundamento da recessão no país, já afeta a indústria de etanol de milho. O texto informa que, no entanto, são as empresas de etanol celulósico, feito a partir de resíduos agrícolas, que “virtualmente não têm chance” de cumprir as metas do Congresso.
A sorte mudou para ambos os tipos de etanol, conta a reportagem, com a queda abrupta do preço do petróleo. Meses atrás, observa o repórter, os estoques de etanol de milho eram disputados, para que a mistura do produto à gasolina baixasse o preço total do combustível. Ao mesmo tempo, investidores sentiam-se confiantes para pôr dinheiro nas empresas em busca de etanol de segunda geração.
A agência do governo dos EUA para o assunto, a Energy Information Administration (EIA), já havia manifestado que a indústria não conseguiria atingir os objetivos. Também o presidente do Comitê do Senado para Energia e Recursos Naturais, Senador Jeff Bingaman, declarou que as metas da lei teriam de ser reavaliadas.
Os númerosO repórter afirma que uma das maiores produtoras de etanol do país, a VeraSun Energy, suspendeu a fabricação em 12 das suas 16 plantas de etanol e planeja vendê-las. Outras três empresas pediram concordata; e mais uma declarou que suspenderia suas operações na Califórnia, registra o texto.
Os dados da Renewable Fuels Association, uma organização como a brasileira União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), são mais abrangentes e estimam que, entre as 150 companhias de etanol norte-americanas, com suas 180 fábricas, dez ou mais fecharam 24 fábricas nos últimos três meses. Isso deve levar a produção anual de aproximadamente 45 bilhões de litros de etanol para 37 bilhões de litros.
As metas da lei dos EUAA lei de energia previa um aumento progressivo na mistura de etanol à gasolina dos EUA, com o objetivo de diminuir as emissões de C02 e também de reduzir a dependência do país do petróleo estrangeiro. Para 2015, a lei previa um consumo de 52 bilhões de litros de combustível ao ano; e para 2022, a entrada no mercado do etanol celulósico. A expectativa do Congresso, explica o repórter, era que o início da comercialização de etanol celulósico superasse a “controvérsia associada ao etanol de milho”, de que sua transformação em combustível estaria elevando os preços dos alimentos. Para o etanol celulósico, as metas do Congresso são modestas: 350 milhões de litros em 2010 e 875 milhões em 2011. “Mas está se tornando claro que mesmo essas metas modestas não serão cumpridas”, informa o texto.
As dificuldades do etanol celulósicoPara mostrar os problemas que a produção de etanol celulósico ainda enfrenta, o jornal procurou Carlos Riva, presidente e executivo principal da Verenium, e registrou sua declaração de que as dificuldades tecnológicas para a produção comercial do etanol celulósico não são facilmente superáveis. Apesar disso, o executivo disse ao repórter que as metas para 2010 e 2011 poderão ser alcançadas em poucos anos.
Empresas emergentes que construíram usinas-piloto querem passar à produção comercial, mas o investimento privado “desabou” desde o início da crise; “e não está claro se a indústria vai ganhar escala”, de acordo com o texto. “Etanol celulósico é alguma coisa que está sempre cinco anos à frente, e cinco anos depois se chega ao ponto em que permanece cinco anos à frente”, disse ao Times Aaron Brady, “um expert em energia” da empresa de consultoria Energy Research Associates.
O consumo de combustível e o etanol celulósicoO consumo de gasolina em 2009 e 2010, de acordo com especialistas ouvidos pelo jornal, será pelo menos 6% menor que o de 2007; se o nível for esse, a produção de etanol já superaria 10% da gasolina consumida. Mas o limite estabelecido pela lei é justamente 10% de etanol no total de combustível utilizado. Isso significa, observa o repórter, que não haverá mercado para o etanol excedente.
Se não houver lugar para o etanol de milho, muito menos para o etanol celulósico - a não ser que o limite de mistura seja ampliado. A indústria automobilística diz que os carros não foram desenhados para maior concentração de etanol. “Mas a Agência de Proteção Ambiental e o Ministério da Energia”, conta a reportagem, “estão estudando essa possibilidade”. O Senador Bingaman, do Comitê de Energia e Recursos Naturais, espera que os estudos se completem em um ano; e declarou que gostaria de ver mais etanol misturado à gasolina. “Quando fizemos a lei”, o jornal registra como declaração do senador, “não antecipamos a recessão em que estamos mergulhando”, para explicar que ainda não sabe com clareza o que isso poderá trazer de mudanças nas metas estabelecidas.
(Mercado Ético,
Carbono Brasil, 17/03/2009)