Não fosse privilegiada pela natureza, com a vasta extensão da Mata Atlântica, a paisagem do Rio seria desértica. O último levantamento da Fundação Parques e Jardins, de 2007, mostra que 50% das mudas de árvores plantadas na cidade são depredadas ou morrem por falta de cuidados. Por ano, 20 mil árvores são plantadas ou replantadas, mas, desse total, 10 mil não chegam a se tornar adultas.
A formação da copa – que faz sombra, enfeita o espaço público e atrai passarinhos – leva de cinco a sete anos, dependendo da espécie. Período em que as mudas ficam vulneráveis a ataques com água quente e criolina, além de urina de cachorro e de gente.
Para diminuir a depredação, há dois anos a fundação mudou o padrão das mudas – atualmente maior, com cerca de 2,5 metros de altura e três centímetros de diâmetro. Também estendeu para um ano o período de manutenção depois do plantio.
– A depredação era alta. Desde então percebemos uma diminuição dos casos de vandalismo, mas ainda não aferimos. As mudas estão mais resistentes. O estudo vai ser feito este ano – comemora o engenheiro florestal Flávio Telles, responsável pela arborização do Rio.
Prejuízo e esperaMais finas, as mudas anteriores acabavam não resistindo à ação dos vândalos. O prejuízo era ter de repetir o plantio e começar, novamente, a espera pela formação da copa. O trabalho é feito por empresas credenciadas, pagas por empreiteiras. A Lei Municipal 613, de 1984, obriga as construtoras a plantar uma árvore por 150 metros de área construída, como medida compensatória por tirarem a vegetação da cidade.
O local beneficiado pelo plantio é escolhido pela Fundação Parques e Jardins. Cada muda custa cerca de R$ 80, fora os gastos com técnicos, transporte de material e abertura de canteiros.
– Se o empreendedor não planta no espaço interno da construção, tem de plantar na rua e mantê-la durante um ano – detalha Telles.
Ter de replantar significa a cidade mais quente, porque é preciso mais tempo até a árvore se tornar adulta. Como informou ontem o JB, um bairro arborizado pode ficar até sete graus mais fresco, de acordo com o Centro de Climatologia do Instituto Estadual do Ambiente (Inea).
– A temperatura fica mais alta e os benefícios demoram a aparecer. E aí a população reclama que o bairro é quente. Mas é por causa da arborização que não está estabelecida – lamenta Telles.
Além de cinza, a paisagem sem árvores perde o canto dos pássaros, também responsáveis pelo controle de certas pragas, porque comem muitos insetos.
A depredação das árvores acontece com mais frequência nas ruas de movimento maior. Justamente as principais beneficiadas, a partir de abril, com o plantio de 600 mudas no Grande Méier. Oito bairros da região vão ser arborizados, principalmente os que estão há muito tempo sem arborização.
São 25 ruas no total, entre elas Engenheiro Nazaré, Bento Gonçalves, Guilhermina, Dias da Cruz e Honório, no Méier. Onze espécies da Mata Atlântica, como ipê roxo e branco, oiti, pau-ferro, sibipiruna, jambo e pitanga, estão na lista.
– Esperamos a parceria da população para que essa arborização vingue e fique adulta. É importante os moradores entenderem a responsabilidade deles e reconhecerem o quanto a muda é importante para a região, que é muito quente – exemplifica Telles.
O presidente da Associação de Moradores do Méier, Jorge Barata, por outro lado, espera que a prefeitura cumpra a manutenção das mudas, como prometido.
– Não adianta só plantar. É necessário acompanhar o crescimento delas – opina.
(Por Ana Paula Verly,
Jornal do Brasil, 17/03/2009)