O turismo na Amazônia pode vir a ser o novo vilão do meio ambiente, ao lado do desmatamento ilegal da floresta e da poluição dos rios causada pela exploração mineral. Uma pesquisa realizada pelo geógrafo Mauro do Nascimento, docente da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), mostra que na margem esquerda do baixo Rio Negro, entre o arquipélago de Anavilhanas e o igarapé Tarumã, a natureza já dá sinais de degradação. E a causa deste problema, entre outros, é o turismo.
“Em 40 km de extensão, onde há dezenas de praias e as atividades de turismo e recreação são intensas, já é comum ver lixo nas margens do rio e matas ciliares impactadas”, afirma Nascimento. O pesquisador abordará esse assunto em uma palestra na Reunião Regional da SBPC em Tabatinga – evento que a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) promove de 17 a 20 de março em Tabatinga (AM).
Segundo Nascimento, essa área do baixo Rio Negro, cujo acesso às praias ocorre apenas por meio de barco, é muito utilizada como recreação pelos moradores de Manaus, mas também recebe um fluxo significativo de turistas. “Em algumas praias, a visitação é esporádica e pequena; em outras, é grande e intensa”, conta ele. “Há locais, como a praia de Tupé, que chega a receber mais de 1.500 pessoas em um só dia”, acrescenta. Sem nenhuma ou com pouca infra-estrutura e organização, essas praias já estão “infestadas” de barraquinhas de lanches. E o lixo é comum por todas as partes.
Sustentabilidade – O mercado imobiliário também vem se aquecendo na região, com a compra e venda de terrenos para casas de veraneio. “Sem um projeto de turismo sustentável, a população local acabará migrando para a cidade ou servindo de mão-de-obra barata para empreendimentos de turismo como já ocorre em outras regiões”, alerta o pesquisador.
Para Nascimento, a Amazônia, a exemplo do que se fez em de Bonito, no Mato Grosso do Sul, precisa urgentemente de marcos regulatórios no turismo. “Será necessária uma intervenção rápida, com a regulamentação da atividade turística baseada na capacidade de suporte de cada atrativo natural, além de se fazer cumprir o que o Código Florestal Brasileiro estabelece para a proteção das matas ciliares”, afirma.
Ele acrescenta que a população local só contribuirá com os esforços de preservação do meio ambiente, se tiver alternativas para sobreviver com dignidade – seja com atividades ligadas ao turismo sustentável, seja por meio da agricultura familiar. “A degradação do meio ambiente pelo turismo na Amazônia está em estágio inicial; ou seja, ainda dá tempo de prevenir o pior”, finaliza.
A palestra “Turismo e recreação e seus impactos sobre o meio ambiente”, a ser proferida pelo geógrafo Mauro do Nascimento, será realizada no dia 20 de março, às 10h30. Mais informações e inscrições no site: http://www.sbpcnet.org.br/tabatinga/
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SBPC, 16/03/2009)