Vice-ministro alemão do Meio Ambiente, Matthias Machnig, quer ampliar diálogo com o Brasil em sua área. Cooperação bilateral é essencial para encontrar soluções para uma economia sustentável, como disse à DW-WORLD.DE.
A Ecogerma é a primeira feira Brasil-Alemanha voltada para tecnologias sustentáveis. O que o senhor está achando do evento?
É um evento muito importante, ainda mais diante da crise econômica. Aqui, estamos falando sobre mercados do futuro, sobre atividades do futuro e sobre uma questão que é chave para os próximos anos: como iremos construir economias sustentáveis? Para isso, precisamos de saltos tecnológicos em muitos setores. Como, por exemplo, os da geração de energia, da eficiência energética, da otimização de recursos, da reciclagem. Feiras como esta podem contribuir para que se avance em muitos aspectos, em primeiro lugar porque cientistas conversam com cientistas, empresas conversam com empresas, políticos conversamos com políticos. E o tema central é o desenvolvimento do mercado verde. Apesar da crise, este será um dos impulsionadores do crescimento nos próximos anos, e agora todos estão percebendo isso.
A Alemanha tem mais tradição em tecnologias sustentáveis do que o Brasil. Como ela pode ajudar o país a se fortalecer neste setor?
Há muitas possibilidades de cooperação. O Brasil já é muito avançado no uso de biocombustíveis, e este é um campo de cooperação interessante para ambos os lados. Além disso, o Brasil é um país ideal para a exploração das energias renováveis, solar, eólica... É interessante desenvolver tais projetos aqui. Não é como se a cooperação Brasil-Alemanha fosse unilateral, com todas as tecnologias vindo da Alemanha. Há muitos campos de cooperação onde podemos aprender uns com os outros, e devemos levar isso adiante nos próximos anos.
O senhor identifica fraquezas que o Brasil ainda tenha que superar?
Há problemas diversos, por exemplo: quando se está em São Paulo, o principal problema é o trânsito. Ou seja, precisamos de infra-estruturas voltadas para o setor de transporte público nas cidades. Além disso, o setor das energias renováveis ainda deve ser ampliado. Ele já é responsável pela maior parte da energia produzida no país, mas ainda há muito potencial. Importante também é a proteção da biodiversidade, principalmente quando se fala da Amazônia. Danos à biodiversidade levam a emissões consideráveis de CO2. Em suma, a sustentabilidade é um grande tema no Brasil.
Quando falamos de energias renováveis, a energia eólica já é bastante desenvolvida na Alemanha, mas no Brasil a capacidade instalada é de apenas 0,3 gigawatts. O país parece ter dificuldade para aceitar essa alternativa energética. O que falta para que a energia eólica entre aqui?
Para explorar a energia eólica, é preciso ter uma grande superfície, é preciso ter vento, mas também é preciso ter os marcos regulatórios necessários. Na Alemanha temos uma lei que prevê compensações para pessoas que investem em instalações de energia renovável. Isso é uma condição essencial. Em tais sistemas, é preciso entender que não se trata apenas do uso de vento ou recursos renováveis, trata-se, cada vez mais, de gerar capacidade própria no setor das energias renováveis, que será uma indústria essencial para o século 21.
Então também é importante que o Brasil continue desenvolvendo suas próprias tecnologias.
Absolutamente. Concorrência faz bem, e, como já disse, o setor será o impulsionador do crescimento nos próximos anos. Aprendemos na Alemanha que é possível montar estruturas industriais e científicas muito rapidamente quando temos as condições e programas de incentivo necessário, e vimos que a ampliação dessa capacidade também gera emprego. Só no campo da energia eólica, criamos mais de 250 mil novos empregos em poucos anos. A Alemanha se tornou líder mundial em produção de energia solar, e isso foi só possível porque tínhamos boas condições de investimento, aliadas à legislação especial.
No campo do meio ambiente, como é o diálogo entre o Brasil e a Alemanha atualmente?
Há uma série de pontos. No ano passado, houve uma grande conferência sobre bioenergia, a convite do presidente Lula, e a Alemanha participou. Há um grupo de pesquisa Brasil-Alemanha sobre o tema dos biocombustíveis. Aqui na feira, conversei com meus colegas para que nós estabeleçamos um diálogo Brasil-Alemanha mais intenso, no setor de meio ambiente. Em todos os aspectos, da técnica à sustentabilidade, passando pela proteção das florestas. Nós queremos ampliar o diálogo sobre temas como clima, proteção das florestas e, sobretudo, cooperação no setor das energias renováveis.
(Por Júlia Dias Carneiro, com revisão de Augusto Valente, Deutsche Welle, 13/03/2009)