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cerrado desmatamento
2009-03-16
Um trecho de cerrado desmatado no Sudoeste está recuperando a vegetação original com a chegada de jenipapos, barus, jatobás e outras árvores típicas da região. As mudas de espécies nativas foram plantadas há quatro anos e começam a dar flores e frutos. A experiência é parte do projeto de recuperação de áreas degradadas do bioma.

Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), unidade Cerrados, reproduziram características da mata em 1 hectare de terra próximo à sede do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). O projeto de recuperação do cerrado começou no Sudoeste em parceria com a Universidade de Brasília e o Ministério do Meio Ambiente e foi reproduzido em Ceres (GO) e Mambaí (BA).

Raízes antigas
A vegetação ainda está em fase de crescimento, mas já transformou a composição do terreno, antes coberto por grama. Cerca de 900 mudas foram plantadas, respeitando-se as distâncias e espécies encontradas na natureza. Há uma árvore a cada 3 metros quadrados. A Embrapa levou 19 tipos de plantas para a região (veja lista abaixo), mas outras espécies se proliferaram com a germinação de raízes antigas e sementes trazidas por animais. “Esse é um fragmento de cerrado nativo importante. É um módulo demonstrativo e a ideia é que produtores rurais vejam o resultado e se estimulem”, explicou a pesquisadora da Embrapa Fabiana Aquino, bióloga e doutora em ecologia.O modelo poderá ser copiado por agricultores em áreas de cerrado que sofreram desmatamento.

A equipe de pesquisa deu preferência a espécies de uso múltiplo, ou seja, aquelas que servem tanto para dar frutos, produzir madeira e forrar o solo com nutrientes das folhas que caem. Essas árvores também costumam atrair a fauna local. Pássaros, insetos e pequenos roedores ajudam a multiplicar as plantas do cerrado, cada um à sua maneira. As aves trazem de longe sementes grudadas no corpo, assim como os pequenos mamíferos, e os insetos promovem a polinização. Os pássaros têm lugar reservado na área do experimento. Poleiros de madeira erguidos entre as árvores atraem os bichos, que hoje são responsáveis pela agradável trilha sonora do local.

Antes de plantar as mudas, os pesquisadores se empenharam em reunir informação sobre o período de frutificação das espécies, como as sementes devem ser coletadas e armazenadas. As mudas são produzidas a partir de sementes colhidas em árvores selecionadas. Elas são domesticadas — passam por melhoramento genético para aprimorar características, como a resistência. A variedade também foi um fator importante na escolha das espécies usadas. “Recomendamos essa diversificação, não o plantio homogêneo. Se você planta uma só espécie, vai atrair os inimigos naturais, elas vão sofrer mais com pragas e doenças. Quanto mais espécies, melhor”, disse Fabiana.


Mudas
Nem só as mudas plantadas e as sementes trazidas por animais deram frutos no terreno. Raízes de árvores que viveram no espaço há anos e estavam adormecidas debaixo do solo brotaram depois do trabalho de recuperação. É o caso do pés de mama-cadela, que apareceram sem seres convidados, mas são bem-vindos no ambiente. Herbáceas e arbustos de menor porte também entraram no ecossistema. Isso aconteceu porque o solo do Inmet estava bem conservado, com nível de perturbação leve — só a vegetação havia sido retirada. A composição da terra não precisou ser muito alterada. Apenas as covas onde foram depositadas as mudas receberam calcário e adubo. “As espécies estão acostumadas a solos pobres, se adaptam às condições do cerrado. Por isso, o manejo é menor”, lembrou Fabiana. As árvores receberam uma rega inicial, mas depois tiveram que se acostumar com a inconstância da chuva na cidade.

Nos primeiros quatro anos do experimento, árvores como o angico e a lobeira se mostraram resistentes e tiveram bom desenvolvimento. Os exemplares de lobeira são os maiores da região e já produzem frutos. A equipe da Embrapa pretende acompanhar o crescimento das árvores e descobrir quanto tempo elas levarão para atingir o mesmo volume de matas nativas. Próximo ao terreno, o Inmet conserva uma faixa de cerrado intocado que serve de comparação para a área recuperada. Os pesquisadores querem saber em quantos anos a área terá proporções parecidas à faixa de terra nativa.

O projeto virou campo de estudos para alunos de graduação e pós-graduação. O biólogo Fábio Barbosa Passos, 28 anos, passou quatro meses analisando as lobeiras do terreno para concluir a dissertação de mestrado em botânica. Ele comparou as plantas que nascem perto da copa das lobeiras com aquelas que germinaram em pontos descobertos. Fábio observou que algumas espécies aparecem com mais frequência perto da lobeira. “A flor-de-cerrado existe em outros locais, mas com a lobeira nasce mais. Achamos que pode ser por conta da própria sombra da árvore”, explicou o biólogo. Atualmente, ele trabalha na medição das árvores. Com a ajuda da equipe e da fita métrica, ele mede a altura e o diâmetro das plantas e avalia o crescimento delas.

(Por Elisa Tecles, Correio Braziliense, 15/03/2009)

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