A Terra Indígena Vale do Javari (AM) é a segunda maior do país, onde vivem 3,7 mil pessoas em cerca de 50 comunidades. São seis povos contatados pelo governo brasileiro (Korubo, Mayoruna, Marubo, Matis, Kanamari, Kulina) e outros considerados pelos índigenas como autônomos, ou isolados, segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai).
Os índios do Javari estão morrendo de hepatite e acusam o governo federal de cometer etnogenocídio (assassinato de um povo). Descontinuidade de ações e falta de vacinação a intervalos regulares deixaram o terrível saldo atual de 80% dos adultos e 15% das crianças com hepatite, de acordo com dados da Fundação Nacional da Saúde (Funasa). A malária é endêmica e há muitas outras doenças, como filária e tuberculose.
A procuradora Deborah Duprat, do Ministério Público Federal, e Márcio Meira, presidente da Funai, admitiram não poder fazer mais nada para ajudá-los. Em sua batalha para conseguir atendimento emergencial e eficaz, os índios procuraram então apoio internacional. Essa semana, o escritor argentino Adolfo Perez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz em 1980, enviou uma carta ao presidente Lula. Esquivel pediu a Lula atenção das autoridades sanitárias brasileiras e ação.
Outro apoio foi obtido no Fórum Social Mundial, em Belém do Pará, quando os indígenas tomaram a sala de imprensa do evento para contar que o número de mortos por hepatite já soma 100. O parlamentar europeu Vittorio Agnoletto prometeu pressionar o governo brasileiro em duas instâncias internacionais: a Mesa Bilateral Mercosul e União Europeia e a Câmara Paritária América Latina e Europa.
Seremos sempre um país e um governo que só agem quando pressionados pelos gringos? Como é possível que a calamidade na saúde dos indígenas requeira cartas e pressões vindas do exterior?
(Por Barbara Arisi,
Diário Catarinense, 15/03/2009)
* Barbara Arisi é antropóloga, jornalista e pesquisadora da UFSC