O céu nublado, o vento e a chuva se tornaram motivos de medo em Santa Catarina depois da tragédia da chuva em excesso e dos deslizamentos ocorridos no Vale do Itajaí, em novembro passado. Mas não é de hoje que o Estado sofre com eventos climáticos ímpares. Em 1974, 199 morreram em uma enchente em Tubarão, no Sul do Estado; em 1983 e 1984, Blumenau também sofreu com grandes enchentes e, em 2004, Santa Catarina registrou a passagem do único furacão do Brasil, justamente por isso batizado de Catarina.
Tanto o histórico do clima catarinense quanto os levantamentos mais recentes confirmam que o Estado é suscetível a fenômenos extremos. A única dúvida que persiste é se as ocorrências são naturais ou resultantes da ação humana. Os meteorologistas apostam na combinação dos dois fatores.
Um levantamento da Central RBS de Meteorologia comprovou que em todos os meses do último semestre foram registrados danos causados por intempéries climáticas. Outubro teve chuva forte e dois tornados; em novembro aconteceu uma das maiores tragédias da história no Estado, com chuvas excessivas e deslizamentos; em dezembro foi registrado um tornado; alagamentos e chuvas fortes atingiram Santa Catarina em janeiro; fevereiro apresentou ventos fortes e março foi do extremo calor a muita chuva, além de, pelo menos, três tornados.
Conforme as meteorologistas do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina, ligado à Epagri, Gilsânia Cruz e Claudia Campos, o Estado é propício aos eventos devido às variações de seu relevo. Além disso, sofre efeitos meteorológicos extremos devido à influência de massas de ar muito diferentes.
O meteorologista da Central RBS Leandro Puchalski lembra que a região Sul está em uma fronteira meteorológica, ou seja, recebe ações de massas de ar de origem tropical – quentes e úmidas – e de origem polar – secas e frias.
Especialistas acreditam em aquecimento globalGrandes diferenças de temperatura já são resultantes da ação destas massas. Os exemplos são o frio intenso, com geada, neve e até temperaturas de -10oC, e, em outras épocas do ano, abafamento, com sensação térmica de calor acima dos 50ºC, como no começo deste mês.
A influência do encontro de massas de ar tão opostas gera efeitos extremos no Estado, como os temporais com chuva e ventos fortes. Geralmente, os eventos extremos acontecem quando há uma associação de fatores meteorológicos, explica Puchalski.
Ele e o também meteorologista da Central RBS Glauco Freitas acreditam, entretanto, que a mudança climática, com elevação da temperatura na Terra, também pode estar aumentando a frequência dos eventos. Em geral, os especialistas na área concordam.
O diretor do Laboratório Nacional de Computação Científica e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), Pedro Leite da Silva Dias, afirma que a apreensão é resultante de eventos extremos cada vez mais constantes.
– Não se pode descartar que o aumento da frequência esteja relacionado ao aquecimento global. Os casos de chuvas acompanhados de eventos extremos se encaixam no que o Painel Intergovernamental aponta como efeito do aquecimento global.
O meteorologista do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Lincoln Alves acredita que eventos extremos, como o de novembro do último ano, podem voltar a acontecer no Estado. Ele também não descarta que precipitações e secas intensas estejam relacionadas às mudanças climáticas mundiais.
– Chuvas fortes e secas intensas mais frequentes podem ser a assinatura do aquecimento global.
Para Alves, somente ações conjuntas entre o poder público e as populações podem minimizar os efeitos devastadores dos eventos climáticos. As sugestões do pesquisador englobam a implantação de sistemas de monitoramento e alerta eficazes para a evacuação de áreas de encostas, bem como projeções de recursos hídricos para minimizar as perdas na agricultura nos casos de seca.
(Por Lilian Simioni,
Diário Catarinense, 15/03/2009)