Organizado para atualizar estimativas sobre o aquecimento global, o Congresso Científico Internacional sobre Mudanças Climáticas terminou ontem em Copenhague com um intenso debate entre cientistas e o primeiro-ministro da Dinamarca. O premier Anders Rasmussem, após a apresentação dos resultados finais do encontro, defendeu que o novo acordo climático deve estabelecer uma meta que permita uma elevação de até 2ºC na temperatura global. A Dinamarca assumirá a presidência da Convenção do Clima da ONU em dezembro, quando 190 países negociarão novas metas de emissão para o próximo período de Protocolo de Kyoto, o pós-2012.
Após a fala do primeiro-ministro, o oceanógrafo alemão Stepham Rahmstorf pediu a palavra e disse que usar o nível de 2ºC não diminui a insegurança com relação a graves impactos da mudança do clima. "Os 2ºC devem ser um limite que não deve ser ultrapassado e não uma meta", disse.
Rasmussem reagiu e perguntou se Rahmstorf estava afirmando que o IPCC (painel do clima da ONU) errou ao sustentar que 2C era um limite razoável. "Você acha que eu deveria dizer à União Europeia que nós deveríamos revisar esta meta, que levou meses para ter consenso?", afirmou.
Will Stefen, cientista da Universidade Nacional da Austrália, interveio com panos quentes no debate. Disse ao ministro que adotar 2ºC como meta poderia ser uma saída para viabilizar o acordo climático no curto prazo. Mas fez ressalva: "Creio que num futuro bem próximo teremos que revisar isso".
A disputa em torno dos limites de temperatura acabou sintetizando a principal conclusão do Congresso em Copenhague: cientistas precisam alertar governos de que o problema é mais sério do que se imaginava. "Observações recentes confirmam que, devido às altas taxas de emissão [de gases-estufa], os piores cenários do IPCC estão se tornando reais", afirma o texto síntese da reunião.
Entre os dados mais pessimistas apresentados em Copenhague, destaca-se o modelo de Rahmstorf que a elevação do nível do mar será mais que o dobro da prevista pelo IPCC.
Nicholas Stern, economista autor de estudo de 2006 que prevê um rombo de até 20% no PIB caso a mudança climática não seja combatida, admitiu em conferência de imprensa que, apesar de severos, os cenários projetados por ele já estão defasados. "Olhando para trás, o "Relatório Stern" subestimou os riscos e os danos", afirmou.
(Por Gustavo Faleiros, Folha de S. Paulo, 13/03/2009)