A Eletronuclear substitui amanhã o primeiro grande equipamento da usina nuclear de Angra 1 e o Brasil entra na era da armazenagem do rejeito nuclear de grande porte. A estatal que administra a usina trocará os geradores de vapor, que serão levados a um depósito inicial com capacidade para armazenar o equipamento por um período de 50 a 100 anos, no terreno da central nuclear. O primeiro gerador será transferido amanhã e o segundo na próxima semana. O uso do depósito foi autorizado pelo Ibama no dia 3 de fevereiro.
A operação é complexa e pode ser vista como ensaio daquilo que será necessário fazer ao fim das operações da primeira usina nuclear brasileira. Em 24 de janeiro, Angra 1 foi desligada do sistema elétrico nacional para efetuar a mudança. O retorno da usina ao sistema está marcado para 6 de junho. A Eletrobrás gastará R$ 724 milhões na troca de equipamento, para cobrir aquisição, segurança, e outras despesas.
"O gerador substituído é um rejeito de grande porte, mas de baixa a média radioatividade", diz Francisco Rondinelli, diretor da Aben (Associação Brasileira de Energia Nuclear). "O prazo para que ele possa ser descartado no ambiente é de 60 a 100 anos." Os novos geradores foram fabricados pela Nuclep, no Brasil, com tecnologia da empresa francesa Areva. Isso qualifica a Nuclep a, agora, exportar equipamentos, diz a Eletrobrás.
Angra 1 foi adquirida como um pacote fechado, que não previa transferência de tecnologia pelos fornecedores. O gerador substituído agora foi fabricado pela Westinghouse, com base em um projeto da década de 1970. Angra 1 começou a operar em 1985.
Os geradores são responsáveis pela produção do vapor usado para movimentar as turbinas e o gerador de energia elétrica. "O equipamento fica dentro da área de contenção. Dentro de seus tubos circula água que tem contato com o reator. Ele gera vapor usando o calor da energia da fissão nuclear", explica Leonam dos Santos Guimarães, assessor da presidência da Eletronuclear.
O modelo de gerador da Westinghouse já apresentou problemas em usinas no mundo todo. Segundo Guimarães, a liga metálica da qual é feito sofre efeito de corrosão quando está sob tensão, o que reduz a vida útil da máquina. No mundo, 89 usinas já realizaram substituições como esta. Até 2011, outras 16 usinas pretendem substituir esses equipamentos.
A tampa do vaso do reator de Angra 1 também terá de ser substituída em alguns anos e seguirá para o mesmo depósito dos geradores. A usina foi licenciada com vida útil até 2025, mas a Eletronuclear prepara estudos para prolongar sua operação até 2045.
(Por Janaina Lage,
Folha de S. Paulo, 13/03/2009)