As piores previsões sobre as mudanças climáticas feitas pela Organização das Nações Unidas há dois anos podem já estar se concretizando, afirmaram nesta quinta-feira cientistas reunidos em uma conferência em Copenhague, na Dinamarca. Em um comunicado final onde delinearam seis pontos-chave para alertar os líderes políticos do mundo, os cientistas afirmam que há um risco crescente de mudanças climáticas abruptas e irreversíveis.
"Observações recentes confirmam que, dados os altos índices de emissões, as piores projeções do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), ou ainda piores, estão sendo percebidas", diz o documento. "O clima já está se modificando além dos padrões de variabilidade natural. (...) Há uma possibilidade significativa de que muitos desses padrões irão se acelerar, levando a um risco crescente de mudanças climáticas abruptas e irreversíveis".
Os pesquisadores também alertaram que mesmo aumentos modestos de temperatura afetarão milhões de pessoas, particularmente em países em desenvolvimento. Mas, segundo eles, a maioria das ferramentas necessárias para diminuir as emissões de dióxido de carbono já existe. Mais de 2.500 pesquisadores e economistas de 80 países participaram do encontro que teve como objetivo apresentar os últimos estudos na área como preparação para a Conferência sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas, que acontece em dezembro deste ano.
Novos dados
Novos dados apresentados no encontro apontam que as projeções feitas pelo IPCC há dois anos sobre o aumento nos níveis dos oceanos já estão desatualizadas. Segundo as novas previsões, o nível das águas pode subir mais de um metro em várias partes do globo, com enormes impactos para milhões de pessoas.
Foram divulgadas também novas informações sobre como a Floresta Amazônica irá sofrer com os aumentos nas temperaturas. Um estudo do Centro Meteorológico da Grã-Bretanha concluiu que pode haver uma perda de 75% na cobertura florestal em um século se a temperatura mundial aumentar em 3ºC. "Nós observamos muitos dados novos. Podemos ver onde estamos e temos um problema", afirmou Katherine Richardson, que liderou o comitê científico que organizou a conferência.
Migrações em massa
O economista britânico Nicholas Stern, autor de um impactante relatório sobre as consequências econômicas das mudanças climáticas, publicado em 2006, também participou do encontro. Durante a reunião, ele afirmou que seu relatório subestimou a escala dos riscos e a velocidade com que o planeta está se aquecendo.
Ele pediu aos cientistas que alertem os políticos sobre o que pode acontecer com o planeta caso medidas para combater o aquecimento global não sejam tomadas. Segundo ele, se a temperatura do planeta aumentar em 5º C até o próximo século, as consequências serão dramáticas para milhões de pessoas.
Stern afirmou que o aumento do nível dos oceanos fará com que muitas áreas se tornem inabitáveis, levando a migrações em massa e conflitos violentos. "Nós poderemos ver centenas de milhões de pessoas, provavelmente bilhões, que terão que se mudar, e sabemos que isso pode causar conflitos. Então, poderemos ver um grande período de conflitos em todo o mundo, de décadas ou séculos", afirmou Stern.
"Acho que é importante que entendamos a magnitude do risco que estamos correndo". Stern ainda afirmou que um acordo global sobre as mudanças climáticas é urgentemente necessário para evitar esse cenário, e que a crise econômica pode ajudar de alguma maneira.
"A inação é indefensável. Esta é uma oportunidade, já que os recursos ficarão mais baratos do que no futuro. Agora é o momento de fazer com que os desempregados da Europa trabalhem em (projetos) de eficiência energética", disse. O primeiro-ministro dinamarquês, Andres Fogh Rasmussen, afirmou que as tecnologias sustentáveis são a solução para os problemas climáticos e econômicos. "Os negócios não serão mais como antes. O crescimento verde é a resposta para nossos problemas econômicos e climáticos", afirmou.
(Por Matt McGrath, BBC, 12/03/2009)