Manifestantes invadiram banco, bloqueando saída de clientes, funcionários e jornalistasDurante duas horas, 54 agricultores ligados à Via Campesina ocuparam a área de atendimento de uma agência bancária de Erechim e fizeram reféns 10 funcionários e 20 clientes. Uma equipe da RBS TV e a reportagem de Zero Hora que cobriam a manifestação também foram proibidas de sair e tiveram seu trabalho prejudicado. Ao final de uma negociação tensa, os manifestantes se renderam, e sete deles foram presos.
A manifestação estava marcada para acontecer às margens da rodovia Erechim-Passo Fundo (BR-153), a partir das 10h. O protesto pretendia chamar a atenção para as perdas provocadas pela seca, e a dificuldade em saldar dívidas contraídas para a safra. Mas, numa assembleia, os agricultores resolveram desviar o foco do protesto para a agência do Banco do Brasil localizada na Avenida Sete de Setembro, no Centro.
Às 13h30min eles chegaram em caminhada e, aos poucos, tomaram a sala de autoatendimento, um local com cerca de 50 metros quadrados onde ficam os caixas eletrônicos. Dentro da agência, separada da sala por divisórias de vidro e uma porta giratória, funcionários e clientes foram surpreendidos. Aos gritos de “a agência está fechada”, os manifestantes mandavam embora quem tentava entrar no banco.
– A gente veio pra ficar. Enquanto não tiver resposta de Porto Alegre ou Brasília, nós não vamos sair do banco – dizia um dos coordenadores, Eliseu Dobrovolski.
O policial rodoviário federal Glademir Luis leandro, 43 anos, fazia uma guia de depósito quando se viu cercado. A mesa em que ele preenchia o envelope foi transportada para a porta e se transformou em barricada.
– Tentei sair, pedi para me liberarem, mas não teve conversa – contou o policial.
Porretes e enxadas se transformaram em trancas para as portas da frente, colchonetes no chão indicavam que os manifestantes não pretendiam sair tão cedo. Por telefone, os líderes começaram a monitorar a ação de outras comissões que tentavam audiências em Brasília e com o governo estadual.
Pés de milho danificados pela seca foram levados à sala numa demonstração de que, por causa da estiagem, não teriam como pagar as dívidas contraídas. Com os rostos cobertos por lenços para impedir a identificação, mulheres e homens cantavam e gritavam palavras de ordem.
Quando já estavam há 45 minutos em cárcere privado, os clientes começaram a temer pelo desfecho do impasse. Por celular, comunicavam familiares e pediam ajuda. Angustiada, a comerciante Marlene Mostifaga ultrapassou a porta giratória para pedir que a liberassem.
– Agora ninguém entra e ninguém sai – gritou uma das agricultoras.
Diante da negativa, ela optou por retornar à área interna, onde os manifestantes não tinham acesso.
– Vim só fazer um depósito. Entendo a reivindicação deles, mas estou preocupada, também tenho que ir trabalhar – disse a comerciante.
(Zero Hora, 12/03/2009)