Pesquisadores da Lista Vermelha das Espécies da Fauna Catarinense Ameaçadas de Extinção já avaliaram parcialmente 25 das 55 espécies de crustáceos que farão parte do levantamento, inédito em Santa Catarina. “É impossível verificar todas”, explica o biólogo Harry Boos Jr., que coordena os estudos deste grupo e atua como analista ambiental do Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Sudeste e Sul (Cepsul), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
O grupo de crustáceos conta com a participação voluntária dos principais pesquisadores do Brasil na área, que já produziram outras listas semelhantes e escreveram cerca de 300 artigos científicos – dois deles são de São Paulo e os outros três do Rio Grande do Sul. Eles se reunirão na metade deste mês para discutir o andamento dos trabalhos e apresentarão um balanço no III Fórum de Discussão das Espécies da Fauna Catarinense Ameaçada de Extinção, que ocorrerá nos dias 30 e 31 de março na Universidade Regional de Blumenau (Furb).
Coordenada pela ONG Ignis, de Itajaí (SC), a elaboração da lista começou em 2007 e deve ser concluída no próximo ano para subsidiar um projeto de lei estadual que proteja e recupere as espécies ameaçadas – Santa Catarina é o único estado das regiões Sul e Sudeste que ainda não tem esse tipo de levantamento.
Boos Jr. diz que o momento atual é importante à lista vermelha por causa da vinda de recursos de compensação ambiental através da Fundação do Meio Ambiente (Fatma), órgão ambiental de SC, a partir de novembro do ano passado. “Agora há como arcar com os gastos”, afirmou, “podemos dar um gás aos trabalhos”. O dinheiro está sendo usado em estudos, oficinas, ações de divulgação, viagens e reuniões presenciais entre os coordenadores.
No caso dos crustáceos, não haverá coletas de novas informações. Os pesquisadores definiram a quantidade de 55 espécies de acordo com o conhecimento deles e o material que já foi publicado na área, obedecendo a critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN, na sigla em inglês).
Manguezais ameaçados
Ao comentar o andamento dos trabalhos, Boos Jr. falou sobre a situação dos caranguejos nos manguezais catarinenses. “Se os manguezais desaparecerem, a conservação desses animais ficará comprometida”, declarou. A extensão desse ecossistema vem diminuindo e algumas espécies provavelmente estarão em uma das seguintes categorias: vulneráveis, em perigo ou criticamente em perigo.
Os efeitos da devastação, segundo o biólogo, podem ser vistos em lugares como a Ilha de Santa Catarina, por causa da especulação imobiliária e de ocupações irregulares, e Balneário Camboriú, onde só há preservação na área do parque municipal. Por outro lado, a Baía da Babitonga, que concentra 75% dos manguezais de SC, consegue manter uma porção considerável deste ecossistema.
Outras ameaças aos crustáceos são a pesca de arrasto e a deterioração dos corpos hídricos, que é provocada pela ocupação das margens, agrotóxicos e problemas de saneamento. Os crustáceos de água doce, por exemplo, dependem de rios com muito oxigênio, mas Boos Jr. ressalta que é preciso ver a situação das espécies para analisar os impactos. “Um rio poluído não vai ser necessariamente a mesma ameaça para todas elas”, comentou.
O levantamento também ajudará o grupo de pesquisadores a determinar as lacunas nas pesquisas de crustáceos em SC, que existem principalmente em relação às espécies da plataforma continental, prolongamento submerso do continente com profundidade de até 200 metros.
Região Sul é carente de informações
Quando a lista desse grupo de animais ficar pronta, os pesquisadores querem compará-la ao outros estudos feitos no país. O coordenador Boos Jr. adverte, porém, que poucos estados fizeram trabalho semelhante. Na região Sul, o Rio Grande do Sul produziu um levantamento só com crustáceos de água doce, enquanto o Paraná nada fez.
Além da equipe dos crustáceos, existem outros 12 grupos de fauna que estão trabalhando na criação da lista de SC: anfíbios, aves, insetos, mamíferos, répteis, peixes marinhos e estuarinos, peixes de águas continentais, moluscos, cnidários, equinodermas, poliquetas e poríferos.
Para saber mais sobre a Lista Vermelha das Espécies da Fauna Catarinense Ameaçadas de Extinção, clique em http://www.ignis.org.br/projetos.htm
(Por Rodrigo Brüning Schmitt, Ambiente JÁ, 12/03/2009)