O relatório Global Futures 2009, divulgado em Londres na última semana, demonstra que se a taxa de crescimento dos investimentos em energias limpas permanecer a atual, em 2020 a soma será de apenas US$ 350 bilhões, bem abaixo dos US$ 500 bilhões que seriam necessários para neutralizar as emissões de dióxido de carbono (CO2).
Apesar da crise também causar a queda da produção industrial, que poderá reduzir as emissões de CO2, o estudo, de autoria da companhia New Energy Finance (NEF), considera que a estagnação dos investimentos terá um impacto muito maior no aquecimento global.
“O relatório deveria ser encarado como um alerta, um despertador para a sociedade. Nossos estudos geralmente estão no lado considerado otimista do debate. Entretanto não é mais possível dizer que estamos no caminho de minimizar as emissões de CO2 até 2020. Alguma coisa tem que acontecer, seja a volta de crédito para os investimentos em energias limpas ou um grande avanço na reunião climática de dezembro em Copenhague”, afirma Michael Liebreich, presidente da NEF.
Corrida contra o tempo
Pesquisadores já afirmaram que se as emissões se mantiverem no ritmo atual, em 2020 os efeitos mais severos do aquecimento global serão irreversíveis.
Para evitar esse cenário, os investimentos globais em energias limpas, renováveis e em projetos de captura e armazenamento de carbono (CCS) saltaram de US$ 34 bilhões em 2004 para cerca de US$ 150 bilhões em 2007.
Porém, esse valor se repetiu em 2008 e a projeção da NEF é que fique estagnado nesse patamar até o fim da a crise. Dessa forma, os recursos injetados no setor anualmente não conseguirão evitar as piores conseqüências das mudanças climáticas nas próximas décadas.
“Nossos estudos mostram que políticas como os sistemas de cap-and-trade estão fazendo alguma diferença. Mas apesar disso, tudo está muito lento, simplesmente as coisas têm que andar mais depressa, inclusive o aumento nos investimentos”, diz Guy Turner, diretor da NEF.
Projetos
O relatório ainda alerta para o aumento das emissões resultantes da queima de carvão, petróleo e gás, que devem passar das atuais 28 gigatoneladas de CO2 para cerca de 36 gigatoneladas em 2030.
Outro fator perverso para o meio ambiente que a crise financeira estaria provocando é o de que a discussão climática está ficando em segundo plano. Países como EUA e China, que ainda tem muito de sua energia baseada no carvão, não conseguem diminuir essa dependência porque, além de lobbies e interesses, a indústria do setor gera muitos empregos. Dessa forma, qualquer decisão que, mesmo minimamente, afete os postos de trabalho se torna bastante impopular.
Para a NEF, uma das soluções para esse dilema são os projetos de CCS. Segundo a companhia, existem atualmente 184 projetos experimentas sendo desenvolvidos por 153 consórcios envolvendo mais de 900 organizações em 28 países.
Esse é um dos campos de investimentos menos afetados pela crise, e, segundo a NEF, os preços do carbono devem subir nos próximos anos, o que vai incentivar ainda mais os investimentos de recursos para projetos na área, soma que deve alcançar US$ 5,1 bilhões em 2020.
(Por Fabiano Ávila, CarbonoBrasil, 10/03/2009)