O lítio, metal cujas jazidas se encontram misturadas às salinas, faz parte da vida de todo mundo. Ele é a matéria-prima das baterias presentes em 90% dos notebooks, 60% dos celulares e em todos os aparelhos de MP3 do planeta. Graças às baterias de íons de lítio, de tecnologia mais moderna que suas antecessoras feitas de chumbo, os equipamentos eletrônicos pessoais vêm se tornando cada vez menores e mais possantes. Agora, com os planos da indústria automobilística de expandir a produção de carros movidos a eletricidade, a tendência é que o lítio adquira um peso cada vez maior na matriz energética mundial. Isso porque as baterias de íons de lítio, em versão bem mais avantajada do que a usada em aparelhos eletrônicos, são consideradas a melhor alternativa para equipar os novos modelos elétricos ou híbridos. No último salão do automóvel de Detroit, em janeiro, a Toyota anunciou uma nova versão do Prius – o primeiro híbrido a se tornar um sucesso de vendas –, em que a bateria de níquel-cádmio será substituída por uma de íons de lítio. A General Motors, que com seu modelo Volt, com lançamento previsto para 2010, pretende transformar o nicho dos carros híbridos num segmento de mercado popular, juntou-se à fabricante de eletrônicos coreana LG para desenvolver sua própria linha de baterias de íons de lítio.
Se depender das nações desenvolvidas, ávidas por diminuir sua dependência do petróleo produzido em países com governo pouco confiável como o Irã e a Venezuela, o destino dos carros elétricos e das baterias de íons de lítio é promissor. O presidente americano Barack Obama quer ver 1 milhão de veículos movidos a eletricidade circulando pelos Estados Unidos em 2015. O mesmo número de carros movidos a bateria deve compor a frota alemã em 2020, segundo os planos da chanceler Angela Merkel. A consultoria americana Free-donia Group, uma das maiores do setor automotivo, acredita que 4,5 milhões de carros híbridos serão vendidos no mundo até 2013. Esse cenário, porém, pode esbarrar num obstáculo. Metade das reservas de lítio do mundo repousa na salina de Uyuni, na Bolívia, país de futuro político e econômico imprevisível diante dos desatinos de Evo Morales. O presidente boliviano nacionalizou de forma atabalhoada os setores de petróleo e gás natural do país. Ele já sinalizou que fará o possível para dificultar o acesso do mundo ao lítio de Uyuni.
Nos últimos dois anos, uma dezena de companhias estrangeiras mostrou interesse em explorar a salina de Uyuni, sem sucesso. As reservas bolivianas continuam praticamente inexploradas. Em visita recente à França, Morales afirmou que está aberto a negociações, mas não quer ser apenas o exportador do lítio. Ele exige uma participação da Bolívia no mercado de automóveis fabricados com baterias de íons de lítio. Assim como a Arábia Saudita tem as maiores reservas de petróleo do mundo, a Bolívia foi premiada com o equivalente em lítio. Há também reservas significativas de lítio no Chile e na Argentina. Juntamente com o Tibete, na China, esses países respondem pela maior parte das 105 000 toneladas produzidas anualmente no mundo. O metal, transformado em carbonato, é também usado na fabricação de remédios e vidros. Mas, se a popularização dos automóveis elétricos vingar, só a Bolívia será capaz de fornecer o lítio necessário para abastecer a frota.
As baterias de íons de lítio representam um notável avanço tecnológico, mas estão longe de ser a resposta para um antigo desafio da ciência – como armazenar energia elétrica em grande quantidade e de forma eficiente e segura. Por enquanto, a melhor forma encontrada para estocar eletricidade são as baterias eletroquímicas, feitas à base de metais. Desde a criação da primeira bateria, feita de chumbo ácido, em 1859, os pesquisadores percorrem a tabela periódica em busca do metal mais adequado a essa função. Apesar de todos os avanços, os ganhos de eficiência das baterias foram pequenos ao longo do tempo. As baterias de íons de lítio armazenam apenas três vezes mais energia do que aquelas criadas há 150 anos.
Agora, os cientistas estão diante de uma limitação em suas pesquisas. Quase todos os metais capazes de armazenar energia de forma eficaz e segura já foram usados. "O lítio marca o limite da evolução das baterias eletroquímicas. Não há outro elemento com o mesmo desempenho", explica Edson Ticianelli, diretor, em São Carlos, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo. A próxima aposta é a troca das baterias eletroquímicas por dispositivos que fornecem energia por meio do hidrogênio. Essa tecnologia, conhecida como fuel cell, já é utilizada em pequena escala e a custos altos. Só deve estar disponível, a preços acessíveis, daqui a duas décadas. Nesse período, para fabricar as baterias mais eficientes, é possível que o mundo dependa dos humores de Evo Morales.
O lítio, metal cujas jazidas se encontram misturadas às salinas, faz parte da vida de todo mundo. Ele é a matéria-prima das baterias presentes em 90% dos notebooks, 60% dos celulares e em todos os aparelhos de MP3 do planeta. Graças às baterias de íons de lítio, de tecnologia mais moderna que suas antecessoras feitas de chumbo, os equipamentos eletrônicos pessoais vêm se tornando cada vez menores e mais possantes. Agora, com os planos da indústria automobilística de expandir a produção de carros movidos a eletricidade, a tendência é que o lítio adquira um peso cada vez maior na matriz energética mundial. Isso porque as baterias de íons de lítio, em versão bem mais avantajada do que a usada em aparelhos eletrônicos, são consideradas a melhor alternativa para equipar os novos modelos elétricos ou híbridos. No último salão do automóvel de Detroit, em janeiro, a Toyota anunciou uma nova versão do Prius – o primeiro híbrido a se tornar um sucesso de vendas –, em que a bateria de níquel-cádmio será substituída por uma de íons de lítio. A General Motors, que com seu modelo Volt, com lançamento previsto para 2010, pretende transformar o nicho dos carros híbridos num segmento de mercado popular, juntou-se à fabricante de eletrônicos coreana LG para desenvolver sua própria linha de baterias de íons de lítio.
Se depender das nações desenvolvidas, ávidas por diminuir sua dependência do petróleo produzido em países com governo pouco confiável como o Irã e a Venezuela, o destino dos carros elétricos e das baterias de íons de lítio é promissor. O presidente americano Barack Obama quer ver 1 milhão de veículos movidos a eletricidade circulando pelos Estados Unidos em 2015. O mesmo número de carros movidos a bateria deve compor a frota alemã em 2020, segundo os planos da chanceler Angela Merkel. A consultoria americana Free-donia Group, uma das maiores do setor automotivo, acredita que 4,5 milhões de carros híbridos serão vendidos no mundo até 2013. Esse cenário, porém, pode esbarrar num obstáculo. Metade das reservas de lítio do mundo repousa na salina de Uyuni, na Bolívia, país de futuro político e econômico imprevisível diante dos desatinos de Evo Morales. O presidente boliviano nacionalizou de forma atabalhoada os setores de petróleo e gás natural do país. Ele já sinalizou que fará o possível para dificultar o acesso do mundo ao lítio de Uyuni.
Nos últimos dois anos, uma dezena de companhias estrangeiras mostrou interesse em explorar a salina de Uyuni, sem sucesso. As reservas bolivianas continuam praticamente inexploradas. Em visita recente à França, Morales afirmou que está aberto a negociações, mas não quer ser apenas o exportador do lítio. Ele exige uma participação da Bolívia no mercado de automóveis fabricados com baterias de íons de lítio. Assim como a Arábia Saudita tem as maiores reservas de petróleo do mundo, a Bolívia foi premiada com o equivalente em lítio. Há também reservas significativas de lítio no Chile e na Argentina. Juntamente com o Tibete, na China, esses países respondem pela maior parte das 105 000 toneladas produzidas anualmente no mundo. O metal, transformado em carbonato, é também usado na fabricação de remédios e vidros. Mas, se a popularização dos automóveis elétricos vingar, só a Bolívia será capaz de fornecer o lítio necessário para abastecer a frota.
As baterias de íons de lítio representam um notável avanço tecnológico, mas estão longe de ser a resposta para um antigo desafio da ciência – como armazenar energia elétrica em grande quantidade e de forma eficiente e segura. Por enquanto, a melhor forma encontrada para estocar eletricidade são as baterias eletroquímicas, feitas à base de metais. Desde a criação da primeira bateria, feita de chumbo ácido, em 1859, os pesquisadores percorrem a tabela periódica em busca do metal mais adequado a essa função. Apesar de todos os avanços, os ganhos de eficiência das baterias foram pequenos ao longo do tempo. As baterias de íons de lítio armazenam apenas três vezes mais energia do que aquelas criadas há 150 anos.
Agora, os cientistas estão diante de uma limitação em suas pesquisas. Quase todos os metais capazes de armazenar energia de forma eficaz e segura já foram usados. "O lítio marca o limite da evolução das baterias eletroquímicas. Não há outro elemento com o mesmo desempenho", explica Edson Ticianelli, diretor, em São Carlos, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo. A próxima aposta é a troca das baterias eletroquímicas por dispositivos que fornecem energia por meio do hidrogênio. Essa tecnologia, conhecida como fuel cell, já é utilizada em pequena escala e a custos altos. Só deve estar disponível, a preços acessíveis, daqui a duas décadas. Nesse período, para fabricar as baterias mais eficientes, é possível que o mundo dependa dos humores de Evo Morales.
(Revista Veja, Planeta Sustentável, 10/03/2009)