A determinação do Ministério Público de fechar a escola itinerante Filhos de Sepé esbarrou em duas situações delicadas: a falta de estrutura do Estado para receber as crianças no interior de São Gabriel e o temor dos integrantes do MST de que seus filhos não consigam se adaptar ao ensino tradicional após terem saído da escola itinerante.
A Secretaria Estadual de Educação afirma que há vaga para as crianças da itinerante na Escola Estadual Ataliba Rorigues Chagas, no distrito de Batovi, a 12 quilômetros do acampamento. Uma professora mora no local e atende a 14 crianças. Além de dar aula em uma turma multisseriada, a professora é a responsável pela merenda, que não está sendo servida devido à falta de repasses. A água que sai das torneiras é barrenta.
– A gente não tem transporte escolar aqui. Têm crianças que caminham uns dois quilômetros para chegar. Se essas crianças (do acampamento) vierem para cá, vai ser preciso uma reestruturação – diz a professora Dalbeci Santiago Zamba, que também é diretora da escola.
Segundo a responsável pela 19ª Coordenadoria Regional de Educação, Carmen Llaguno, a estrutura da escola seria preparada, caso tivessem havido as matrículas dos estudantes do MST. Segundo a coordenadora, enquanto não houver matrículas, a 19ª CRE não deve providenciar mais estrutura para os novos estudantes.
– Estamos hoje trabalhando com hipóteses. Não sabemos quantos estudantes teremos, nem se teremos. – diz a coordenadora.
A estrutura debilitada do Estado para receber as crianças é um dos motivos de questionamento dos integrantes do MST. Tanto no acampamento quanto nos assentamentos, uma espécie de acordo foi fechado entre os integrantes do movimento para não deixarem as crianças irem para as escolas tradicionais.
– A ideia é que ele vá para a itinerante, porque, assim, ele aprende a realidade do assentamento, o que nunca vai aprender na escola normal. Eu não quero que ele seja discriminado na escola normal por ser filho de sem-terra, por não ter o material da moda. Se precisar, eu respondo na Justiça, mas meu filho não vai para a escola normal – afirma Luís Fagundes, 26 anos, pai de três filhos, que ainda não estão nem na escola itinerante.
(Diário de Santa Maria, 10/03/2009)