Em onda de manifestações pelo país, Via Campesina promoveu depredação em CandiotaCentenas de mulheres ligadas à Via Campesina – movimento internacional que coordena organizações de pequenos agricultores – destruíram ontem cerca de um hectare de eucalipto (1,6 mil árvores) durante a invasão da Estância Aroeira, antiga Fazenda Ana Paula, de propriedade da Votorantin Celulose e Papel (VCP), em Candiota, na Região da Campanha. Foi um dos principais atos da onda de protestos patrocinada pela organização em seis Estados. A expectativa é de que novas manifestações ocorram hoje, em Bagé.
Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, comemorado no domingo, só agricultoras participaram dos atos, que incluíram o bloqueio de um porto de exportação de celulose no Espírito Santo e a ocupação da sede do Ministério da Agricultura, em Brasília (veja box).
No Rio Grande do Sul, as mulheres cortaram eucaliptos em fase de crescimento e abandonaram a área antes do final da manhã. No total, a VCP tem 14,5 mil hectares de terra no local, com 7,5 mil hectares plantados com eucalipto. A área está protegida por uma sentença judicial de interdito proibitório (que proíbe invasões).
As mulheres não chegaram a acampar na Estância Aroeira. Em uma lenta marcha, deslocaram-se pela estrada que costeia a plantação e ficaram à margem da estrada que dá acesso ao assentamento Conquista do Paraíso.
Com facões e foices, além do rosto coberto por um lenço roxo, o grupo dizia palavras de ordem contra o que chamavam de “mar verde”. Um efetivo do Pelotão de Operações Especiais (POE) da Brigada Militar foi deslocado de Santana do Livramento para vigiar as ações, mas não houve conflito.
– Foi uma situação que acabou se tranquilizando – disse o supervisor florestal da Aroeira, Paulo Munari.
A manifestação gerou tensão entre produtores e sindicalistas rurais da região. Segundo o presidente do Sindicato Rural de Bagé, Eduardo Moglia Suñe, as ações da Via Campesina serão vigiadas.
– Tudo é uma incógnita. A presença delas nos obriga a manter uma vigilância permanente – aponta.
O deputado estadual Dionilso Marcon (PT), ligado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e que estava com as manifestantes, afirmou que o cansaço motivou mulheres e crianças a acamparem em um ponto antes do previsto. Sobre as possíveis ações de hoje, ele disse apenas que o destino seria Bagé.
A Via Campesina diz que os protestos contra a VCP, no Rio Grande do Sul e no Espírito Santo, foram para denunciar demissões praticadas pela empresa em todo o país. Nos outros Estados, os protestos foram contra a dispensa de 134 mil pessoas ligadas à agricultura.
Em nota, a VCP lamentou e repudiou o que considera, “claramente”, um desrespeito às leis nacionais vigentes. A empresa afirmou respeitar qualquer manifestação democrática e estar aberta ao diálogo.
(Zero Hora, 10/03/2009)