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tecnologias limpas
2009-03-10

Em 1973, no auge da Crise do Petróleo, a física Mônica Oliphant, escutou no rádio Sir McFarlane Burnett afirmar que o mundo poderia ser um lugar muito mais seguro e justo se os países não dependessem tanto do petróleo e usassem mais energia solar. Neste dia, ela selou seu destino e começou a traçar sua carreira na área de renováveis, que culminaria na presidência da Sociedade Internacional de Energia Solar (ISES), no final de 2007.

Membro do conselho de diretores da ISES desde 1997 e integrante do Conselho da Iniciativa Internacional Cidades Solares, a australiana Mônica trabalhou nos últimos anos em muitos projetos a nível estadual e nacional, assim como para indústrias na área de monitoramento, análise e medição energética. Ele foi membro de diversos conselhos públicos de sustentabilidade e energia, incluindo o Painel Revisor de Metas Mandatórias para Energia Renovável da Austrália.

Na entrevista concedida a CarbonoBrasil, Mônica fala sobre o papel da ISES em promover energias solar por todo o mundo, das escolhas energéticas da Austrália e da transição de uma matriz baseada em combustíveis fosseis para fontes limpas.

CarbonoBrasil –  O que a ISES faz para promover o uso de energias renováveis?

Mônica Oliphant – A ISES começou há 54 anos atrás nos Estados Unidos, mudou a sua sede para a Austrália por alguns anos e agora está sediada em Friburgo, na Alemanha. Nós temos membros em cerca de 100 países, com 50 seções e cerca de 30 mil membros associados. É também uma organização sem fins lucrativos, somos predominantemente uma sociedade científica, com cerca de 70% dos membros sendo cientistas, 15%, empresas e outros 15%, organizações governamentais ou públicas. 

Nosso objetivo é promover uma rápida transição para um mundo movido a fontes renováveis.  No começo, pensando bem, olhávamos para todas as energias renováveis, porém hoje estamos mais focado na solar. Com este intuito, fazemos conferências internacionais bianuais – a última foi na China e a próxima será em Joanesburgo –, e temos algumas conferências regionais e, recentemente eu estive na Eurosun, em Portugal. Também temos publicações científicas e informativas, além disso, produzimos artigos publicados em periódicos científicos e financiamos projetos. O último projeto que estivemos envolvidos foi um relacionado ao uso comercial da energia solar na Índia. Também criamos programas para jovens pesquisadores, como intercâmbio de estudantes de mestrado e, estágios em empresas que integram o ISES.

CarbonoBrasil – E como está o uso de energias renováveis na Austrália?

Mônica - Nós somos quase o oposto do Brasil. Vocês têm quase 80% de energia hidrelétrica, nós temos 80% de carvão, o que é realmente muito ruim e torna mais difícil a entrada de renováveis na matriz. Porém onde eu moro (Adelaide, sul da Austrália), apesar de temos carvão e gás, também temos muito sol, vento e boas energia das ondas e geotérmica. Temos sorte por ter tudo isso, o problema é que o gás e o carvão ainda são muito baratos. Por isso, precisamos de incentivos que, infelizmente, quase não existem.

O que as pessoas precisam fazer é coordenar para dar estabilidade e surgirem investidores. Algumas experiências da Austrália são os Certificados de Energia Renovável, que deveria vigorar de 2001 até 2010, mas com o novo governo ele foi expandido e irá continuar até 2020; e o esquema de emissões, previsto para iniciar em 2010.  Além disso, o governo federal está dando incentivos para pequenos painéis fotovoltaicos e energia solar e eólica para aquecimento, mas é algo sem continuidade que não oferece muita certeza.

Também estão avaliando uma tarifa para fornecimento de energia para pequenos produtores (feed-in), com oito estados que desenvolveram esquemas por um período de tempo. Todos decidiram olhar para a questão da tarifa feed-in depois que nosso estado deu o primeiro passo. A diferença é que não fizemos o sistema baseado em toda a geração elétrica, mas apenas no excesso gerado e para sistemas que produziam até 10 quilowatts. Cada estado é bastante diferente, então estamos tentando unificá-los.

CarbonoBrasil -  Qual a sua avaliação do uso de tecnologias de Captura e Armazenamento de Carbono (CCS)?

Mônica - Muito dinheiro está sendo investido em CCS, principalmente porque o carvão responde por 80% da nossa matriz energética e é uma grande indústria de exportação. Então o lobby do carvão é muito forte na Autrália e, por isso, acho que faz sentido tantos investimentos nesta área. Eu gostaria que recebêssemos o mesmo volume para renováveis! Afinal, há riscos ambientais e não se sabe ainda o que pode acontecer.

CarbonoBrasil – E qual a sua opinião sobre o desafio de aumentar o uso de energia renováveis no mundo, pois sabemos como produzi-la em escala, então porque ainda não o estamos fazendo?

Mônica - Provavelmente por causa do forte lobby dos combustíveis fósseis e, agora com as mudanças climáticas, a energia nuclear apareceu como energia limpa. Tem havido muita conversa de que a energia renovável não pode proporcionar energia barata, de modo contínuo e com confiabilidade. Mas isto não é verdade. Hoje em dia, com energia solar de grande escala você pode co-gerar eletricidade com o uso de gás para fazê-la ficar mais barata. Além disso, você não deve pensar em apenas um tipo de energia, você precisa misturá-las para formar uma rede: solar com eólica, geotérmica com biomassa. Todas juntas podem fornecer um bom mix e, trabalhando em conjunto com combustíveis fósseis, podem aumentar a penetração.

O que tenho ouvido recentemente de alguns capitalistas, principalmente com a crise financeira global, é que investir em energias renováveis é uma opção segura. Se antes buscavam um retorno financeiro em três ou quatro anos, hoje estão satisfeitos com um retorno em sete ou oito anos. Então talvez isso – a crise – trabalhará a favor, apesar das indústrias de uso intensivo de energia estarem dizendo que a crise global as fará menos competitivas e, por isso, pedem para que não sejam criados impostos sobre o carbono ou esquemas de comércio. Mas gradualmente, se olharmos o que está acontecendo hoje, podemos ver algum progresso.

CarbonoBrasil - Não temos muita saída, precisaremos mudar de uma matriz baseada em combustíveis fósseis para as renováveis?

Mônica - Eu acho que as pessoas estão percebendo isso, que não é uma escolha.

(Por Paula Scheidt, CarbonoBrasil, 09/03/2009)


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