Se não bastasse a expansão de soja transgênica na agricultura brasileira, agora as lavouras do país serão invadidas pelo milho transgênico. Com a falta de pesquisas e uma legislação ineficiente, o milho geneticamente modificado surge com uma nova promessa: resistir a determinados insetos e aumentar a produção. Sem a confirmação dos malefícios para a saúde, o produto entrará na nossa cadeia alimentar a partir da próxima safra.
Antônio Inácio Andrioli, um dos pesquisadores a por em pauta esse debate no Brasil, está desapontado com a opção do país, e diz que a longo prazo a plantação representará uma catástrofe para os agricultores. "Já sabemos que o milho modificado vai produzir menos que o convencional e sua produção vai custar mais caro”, adverte.
Além dos malefícios para a agricultura, produtos geneticamente modificados podem estar relacionados a uma série de epidemias que crescem na sociedade contemporânea, como o câncer e alergias alimentares. As plantas produzidas através da transgenia, explica o pesquisador, em entrevista concedida com exclusividade à IHU On-Line por telefone, são imunodeficientes, ou seja, piores que as desenvolvidas através do melhoramento genético tradicional. “Recentes pesquisas feitas na França mostram que animais consumidores de produtos imunodeficientes também passaram a apresentar imunodeficiência, e, consequentemente, foram mais atacados por doenças”, alerta.
Segundo o pesquisador, “se utilizássemos uma fórmula de glifosato cem vezes menor do que a utilizada na agricultura através do Roundup, teríamos uma alteração celular”. Andrioli também aponta para segundo problema: uma alteração do ácido desoxido ribonucleico, responsável pelas características hereditárias. “Ele está sendo afetado em função do uso do glifosato que passa através dos alimentos em forma de resíduos.”
Depois de retornar do curso de pós-doutorado, na Áustria, o pesquisador está impressionado com o anonimato brasileiro em relação aos transgênicos, com a desinformação da população brasileira e a falta de interesse nesse debate. “Essa é uma discussão que interessa a todos, porque não tem ninguém que não coma. Portanto, todos estão sendo afetados pelo cultivo de transgênicos.” Em conversa com a equipe da IHU On-Line, o pesquisador alertou para o boicote de informações e denuncia que pesquisadores são perseguidos por colocar seus estudos à disposição do público.
Antônio Inácio Andrioli é graduado em Filosofia, pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijui), mestre em Educação nas Ciências, pela mesma universidade, doutor em Ciências Econômicas Sociais, pela Universität Osnabrück, Alemanha, e pós-doutor, pelo Instituto de Sociologia da Universidade Johannes-Kepler de Linz, Áustria. Atualmente, é professor do mestrado em Educação nas Ciências, na Unijuí e docente do Instituto de Sociologia da Universidade Johannes Kepler de Linz. Ele é autor de Transgênicos: as sementes do mal (São Paulo: Editora Expressão Popular, 2006) e Soja Orgânica versus Soja Transgênica.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Se a produção alimentícia do planeta é superior ao consumo dos seres humanos, por que a fome ainda é um problema não resolvido? Os transgênicos estão contribuindo para esse cenário?
Antônio Inácio Andrioli – A fome é um problema distributivo e não técnico. Assim, temos de discutir as causas da desigualdade social, ou seja, temos muito mais produção do que consumo. Mas o problema clássico da fome é o difícil acesso, da maioria dos que passam fome e que estão abaixo da linha da pobreza no mundo, aos alimentos produzidos. Paradoxalmente, a maioria das pessoas que passam fome no mundo são agricultores que vivem no meio rural, exatamente num local onde poderiam ser produzidos alimentos. Um elemento central para entender isso – e que também nos remete a produção dos transgênicos como fator importante – é o fato de os pequenos agricultores não terem conseguido sobreviver ou serem inviabilizados na atividade agrícola devido à monocultura. Eles têm dificuldades de conseguir sobreviver no mercado, porque precisam aumentar a área de produção para tornar viável a monocultura.
A base que está por detrás disso é muito simples: a ideia liberal que fundamenta a lógica do mercado, de que o agricultor se especializa numa produção – isso significa que ele diminui o próprio acesso à alimentação, portanto não produz mais comida para si mesmo –, na expectativa de receber dinheiro suficiente para comprar alimentos. Essa lógica não funciona, porque, ao aumentar a produção dessas monoculturas, ocorre a diminuição de seu preço e um aumento dos custos em função dos problemas técnicos gerados por esse modelo de plantação. Como acontece essa inversão, há uma menor renda agregada para o trabalho desses agricultores, que estão se endividando para comprar novas terras, insumos, e alguns até perdendo suas terras para pagar as dívidas, se tornando assim agricultores sem terras.
Um problema técnico e estrutural
Então, temos um problema estrutural, ou seja, um empobrecimento dos pequenos agricultores, o que contribui para aumentar a fome no campo e o êxodo rural. E é claro que, se utilizarmos a tecnologia dos transgênicos – que contribuem para o aumento dos custos de produção e ao mesmo tempo são cultivos que têm uma produtividade inferior aos convencionais –, aprofundaremos a lógica de dependência das técnicas. O agravante é que, como nunca antes visto, agora temos a dependência da gênese do alimento. O agricultor que planta a soja transgênica irá pagar royalties não só sobre a soja, mas também sobre o próprio glifosato que está embutido nesse pacote de compra das sementes. A empresa fatura duas vezes, enquanto o agricultor paga duas vezes. Essa é uma das grandes explicações para o aumento da desigualdade social e da fome na agricultura. É uma vergonha para o mundo ter 900 milhões de pessoas passando fome, mesmo numa situação de superprodução de alimentos.
Além de ser um problema político e de distribuição, essa crise alimentícia é também um problema de produção, pois estamos produzindo alimentos que não consumimos como a soja, os quais têm servido para a criação intensiva de animais na Europa. Os produtos oriundos dessa soja passam a interferir nos mercados mundiais quando apresentam um valor mais abaixo em relação ao preço desses mercados, o que faz com que localmente a produção seja atingida e cause fome. Um exemplo claro disso é a exportação de frango brasileiro para a Europa. Os europeus compram esse produto a um preço que permite descartar as partes que eles não comem. O que não é consumido passa a ser doado para a África. Isso tem destruído a produção africana de frango, porque é uma concorrência insustentável.
Além de contribuir para a desigualdade social, em que medida a produção de transgênicos também aumenta os impactos da crise ambiental e financeira?
Andrioli – Um dos grandes problemas da crise é a utilização de fonte energética limitada. Não temos condições de continuar produzindo uma agricultura através de químicos resultantes e derivados de recursos fósseis. Os transgênicos são apenas uma nova fase da indústria química. Não é por acaso que essas empresas financiam os transgênicos. As plantas produzidas através da transgenia são imunodeficientes, ou seja, são piores do que as plantas desenvolvidas através do melhoramento genético tradicional. Então, a indústria química construiu uma forma de vender mais produtos químicos com falsos argumentos de estamos numa nova fase em que se substituirá a química. Essa agricultura tem gerado no mundo uma dependência enorme de importação desses produtos, pois, para importá-los, muitos países têm aumentado suas exportações agrícolas. Isso faz com que se destruam os recursos naturais através das monoculturas.
No capitalismo, com a lei das vantagens comparativas, cada agricultor deveria conseguir se aproveitar de uma situação em que ele possa ter os menores custos, ou seja, produzir o que é mais adequado para um determinado momento do mercado e ter uma vantagem comparativa em relação a outro produtor. Essa vantagem comparativa em relação ao outro fez com que hoje tivéssemos a generalização dessa lógica: cada país produzindo o que tem menor custo, ampliando o mercado mundial. O fato é que, com uma situação de comércio mundial generalizada – e o Brasil se insere dentro dessa lógica ao apostar na agroexportação –, surgem problemas claros, na época não apontados pelos liberais. O transporte, por exemplo, se baseia no uso de combustíveis fósseis e o valor desse transporte precisa ser embutido nos custos do produto. Esses gastos (ambientais e financeiros) poderiam ser destinados à melhoria da qualidade de vida, da produção de alimentos etc., ao invés de ser usado para destruição da natureza. Entramos assim na lógica da mundialização do capital com a expansão do comércio e daquilo que os liberais anunciavam como a grande esperança em termos distributivos. Como sabemos, na lógica da concorrência se destroem muitos recursos e investimentos. Surgem, então, como resultado final disso, as crises que fazem com que se destrua a produção para que os preços não caiam.
Com a ajuda do Estado, lógica perversa do capitalismo se sustenta
Em muitos momentos, vimos a necessidade de interferência do Estado, mas, para que ele possa agir, é necessário deixar de investir em infraestrutura e programas sociais. Assim, esse tipo de ajuda faz com que se aumente a desigualdade social, porque aquelas empresas que lucraram nesse processo de globalização são agora as beneficiadas novamente através do Estado que usa recursos que deveriam ser destinados à população, para salvar essas instituições. São tais empresas que, também dentro da lógica capitalista, contribuíram para o acontecimento desse caos.
Essa crise financeira é apenas o reflexo de um problema muito maior: a maneira como produzimos e organizamos o consumo no mundo. No momento que a forma de produção também está em crise, deveríamos pensar em outras alternativas possíveis. Na agricultura, por exemplo, deveríamos priorizar formas de produção menos dependentes de recursos externos, e priorizar a agricultura que pudesse produzir localmente para um mercado local. Assim, diminuiríamos as distâncias entre consumidor e produtor. Esse tipo de economia regional que defendo seria uma alternativa diante daquilo que hoje é o responsável, em boa parte, pela crise que estamos vivendo.
Como o senhor avalia a opção do Brasil pelo milho transgênico, considerando o exemplo de recusa dos europeus e também as desvantagens já conhecidas pelos agricultores com o plantio de soja transgênica?
Andrioli – Já sabemos que o milho modificado vai produzir menos que o convencional e sua produção vai custar mais caro. Então, não poderia ter um interesse do agricultor em cultivar uma planta que não lhe oferece vantagens. Mas, novamente, existe uma promessa de que essa planta seja resistente a um determinado inseto, mas isso realmente só será possível se esse inseto se tornar uma praga. É claro que em muitos países esse inseto já é considerado praga, mas temos de nos perguntar também: por que ele se tornou uma praga? Se com o uso desse tipo milho vamos aumentar a incidência de pragas e o número de doenças – porque essa planta é imunodeficiente –, então, a longo prazo, isso será uma catástrofe para o agricultor.
Mas, infelizmente, há uma ideologia muito grande por trás desse debate: a ideologia da técnica. A técnica sempre carrega consigo uma ideologia, ou seja, os interesses pelos quais uma técnica foi produzida. Esses interesses não são os mesmos dos agricultores; pelo contrário, as empresas esperam que, através dos problemas técnicos que esses produtos geram na agricultura, se possa aumentar o consumo de químicos que essas indústrias fornecem, o que logicamente significa um aumento no custo de produção dos agricultores.
O grande problema é que os responsáveis pela liberação desses produtos – cientistas financiados pela indústria transgênica – pertencem a uma comissão técnica que está acima do governo e da Constituição.
O milho transgênico pode contaminar as plantações tradicionais, produtos derivados e carne?
Andrioli – O milho se contamina de uma lavoura para a outra, pois é uma planta de pulverização aberta e cruzada, diferente da soja, que se autofecunda. Então, com o milho transgênico teremos uma contaminação rápida, decorrente dos primeiros cultivos. Em relação à contaminação da carne, isso já ocorre com a soja transgênica, que tem resíduos do glifosato, e, portanto, não deveria ser destinada a ração animal, pois produtos como leite, ovos, carne são contaminados e geram problemas para a saúde. Essa é uma soja que contêm de 14 a 33% de glifosato, por quilo, o que está acima dos nossos limites estabelecidos.
O milho tem um agravante, pois o utilizamos na nossa própria alimentação e também como ração animal. Então, ele entrará diretamente da nossa cadeia alimentar. Nós já consumimos o óleo de soja e a lecitina da soja está em milhares de produtos, mas no milho isso é muito mais grave. Isso porque o brasileiro come milho, e os seus derivados estão em toda a nossa cultura alimentar. No momento em que o milho passa a ser transgênico, consumimos uma planta que produz uma toxina em todas as suas células e essa toxina, inadequada para a saúde, passa a fazer parte da nossa alimentação humana, pois está gerando imunodeficiência no mundo inteiro.
O milho modificado poderá ser usado para a produção de agrocombustíveis? Quais as implicações disso?
Andrioli – Essa tem sido a esperança anunciada por alguns defensores da introdução de milho e soja transgênico, como o próprio presidente Lula, ao afirmar que a soja transgênica não prejudica os motores. Entretanto, precisamos avaliar se a água no entorno dessa produção transgênica não está sendo contaminada.
Em que sentido a produção de transgênicos implica no adiamento da reforma agrária e da produção sustentável?
Andrioli – Temos em torno de 100 milhões de hectares de terras no Brasil que estão ociosas. Agora, além dos transgênicos estarem contribuindo para que mais agricultores se tornem sem terras, porque estão se endividando. Para produzir soja transgênica, a viabilidade é de uma pessoa trabalhando em 200 hectares, isso significa que há uma necessidade de expansão da terra, ou seja, a exclusão de pequenos agricultores, porque a terra é um recurso limitado e não podemos aumentá-la. Os transgênicos aumentam a concentração de terra, a desigualdade social, o êxito rural. Por isso, temos de dizer que os transgênicos são uma tecnologia não apropriada aos interesses da maioria da população, porque geram problemas ambientais, sociais e de saúde pública. Desse ponto de vista, a reforma agrária tende a ser mais difícil no Brasil com o avanço dos transgênicos. As terras improdutivas que poderiam estar destinadas a reforma agrária, hoje passaram a ser “produtivas” com a soja transgênica. Isso é um gravíssimo problema, porque a soja transgênica permite a ampliação em milhares de hectares, com menos gente trabalhando.
O senhor percebe relações entre as empresas que produzem transgênicos, alimentos, as que desenvolvem agrotóxicos e as farmacêuticas?
Andrioli – Com certeza. As grandes empresas têm outras instituições sob seu controle. A Novartis, que antes era uma empresa farmacêutica, hoje está dentro da Syngenta. Gradativamente, se mudam os nomes dessas empresas por questões relacionadas a sua imagem. Mas sabemos que as quatro empresas que produzem transgênicos são e foram indústrias farmacêuticas e são indústrias químicas. A Monsanto, por exemplo, tem mais de 100 anos e enriqueceu através do fornecimento de químicos para as duas Grandes Guerras Mundiais. A empresa defendia o agente laranja – utilizado na Guerra do Vietnã – como um produto que apenas dissecava plantas. Depois, se utilizou isso na agricultura com o 2,4-D, um produto ainda usado no Brasil, embora proibido. A Monsanto também tem usado um hormônio para crescimento bovino com as somatotropinas (GH) (1), um produto proibido na Europa, mas liberado nos Estados Unidos e no Brasil. As empresas desenvolvem também produtos imunodeficientes. Assim, as plantas transgênicas resistentes a herbicidas e a insetos e são mais facilmente atacadas por pragas e doenças, o que demonstra que elas são piores que as convencionais. Entretanto, elas permanecem no mercado porque são uma grande fonte de riqueza para a indústria farmacêutica.
Uma explicação para a imunodeficiência
Recentes pesquisas feitas na França mostram que animais consumidores de produtos imunodeficientes também passaram a apresentar imunodeficiência, sendo, consequentemente, mais atacados por doenças. Deveríamos fazer uma análise seguinte com os impactos que isso gera no ser humano que consome alimentos contaminados por glifosato (2). Esses alimentos contaminados aos quais me refiro têm, dentro de sua célula – como no caso do milho transgênico –, uma toxina sendo produzida por um bacilo thuringiensis. Isso mostra que há uma grande probabilidade de aumentar as doenças do mundo, o que tem sido uma das estratégias da indústria farmacêutica. Infelizmente, essas questões não são compreendidas pela população, e tampouco impedida pelos órgãos públicos que liberam esse tipo de produtos no Brasil, enquanto na Europa há oito países proibindo.
Tem crescido bastante o número de pessoas com alergia alimentar e as epidemias de câncer são evidentes. Esses prognósticos podem estar relacionados aos transgênicos, agrotóxicos e a outras substâncias que estão presentes nos alimentos industrializados?
Andrioli – Nós precisamos fazer uma análise muito profunda disso. Apenas temos alguns indicativos de pesquisas que estão sendo feitas. Em primeiro lugar, temos poucos profissionais da área da saúde dedicados a esse tipo de estudo, até porque as pesquisas nessa área são financiadas pelas multinacionais. Mesmo assim, temos 10% de pesquisas independentes no mundo, as quais alertam para os riscos relacionados à saúde.
Uma morte lenta
Sabemos que há uma modificação celular se utilizarmos o glifosato na alimentação; se utilizássemos uma fórmula de glifosato cem vezes menor do que a utilizada na agricultura através do Roundup (3), teríamos uma alteração celular. Essa alteração celular é um problema, porque as células estão crescendo desordenadamente e aumentando aquilo que chamamos de câncer. Um segundo elemento importante é que hoje estamos vendo que há uma alteração inclusive do ácido desoxido ribonucleico, responsável pelas características hereditárias. Ele está sendo afetado em função do uso do glifosato que passa através dos alimentos em forma de resíduos.
O bacilos thuringiensis tem agido na imunodeficiência. Ele é uma toxina que forma cristais contra o intestino. Nos animais, percebemos uma desregulação nos intestinos, após a ingestão de insetos que comem milho transgênico. Precisamos refletir sobre isso, porque o intestino é responsável pelo controle daquilo que precisa sair e daquilo que fica no organismo. Se desregularmos isso, passamos a produzir substâncias nocivas ou passamos a acumulá-las no organismo.
Há inúmeros outros estudos preliminares que estão sendo divulgados pelo mundo e apontam para o aumento das alergias, porque estamos, de fato, com um elemento novo sendo introduzido dentro de uma planta, sem que as pessoas saibam ou sem que elas tenham consciência de que estão consumindo um alimento novo, para o qual o organismo não está preparado. Assim como a planta não está preparada para receber determinados gens estranhos a ela – porque essa é a característica da transgenia –, é claro que esses organismos terão uma reação, ou seja, irão produzir também reações que não conhecemos. Eu posso ter uma alergia a uma determinada planta e, quando os seus gens são inseridos dentro de outra, aumenta-se a probabilidade de pessoas alérgicas.
É claro que não temos estudos numa dimensão que nos possa afirmar que o aumento do índice de câncer, das alergias, da depressão e de outras doenças que temos hoje seja em função do uso dos transgênicos. Mas os dados são alarmantes, e sabemos que a imunodeficiência pode ser resultado do consumo dos transgênicos, o que abre campo para um conjunto de doenças que pareciam combatidas.
Contaminação
Uma segunda questão é o aumento dos produtos químicos na agricultura. Na produção transgênica do Brasil, são misturados herbicidas, inseticidas, fungicidas, tudo no mesmo pulverizador para facilitar a aplicação de uma só vez. Só que não sabemos o efeito dessas bombas químicas que hoje são despejadas nos alimentos e no lençol freático. Estamos consumindo águas e alimentos com resíduos de produtos químicos, cujos efeitos não conhecemos. Existem produtos no mundo hoje, como pesticidas, inseticidas, fungicidas, que têm propiciado determinados tipos de câncer, e que hoje deveriam estar proibidos, mas são utilizados porque os agricultores não conseguem dar conta dos inços que tem se tornado resistente ao glifosato, sem analisar as consequências que isso tem a saúde.
Existe a lei da rotulagem e identificação desses produtos, mas ela apenas confirma que a maioria dos produtos a base de soja são transgênicos. Ainda não há uma consciência de que os transgênicos são responsáveis pelos problemas de saúde, problemas técnicos na agricultura, que eles têm contribuído para o aumento da fome, porque essa informação não chega. Os meios de comunicação no Brasil não têm colocado na pauta essa informação.
Notas:
(1) Somatotropina é um hormônio secretado pela glândula pituitária. Esse é um potente hormônio anabólico que afeta todo o corpo humano, tendo funções como o crescimento muscular, ligamentar e cartilaginoso, influência na textura da pele, diminuição da lipólise e outros efeitos.
(2) O glifosato é um herbicida sistêmico não seletivo (mata qualquer tipo de planta) desenvolvido para matar ervas, principalmente perenes. É o ingrediente principal do Roundup, herbicida da Monsanto.
(3) O Roundup é um pesticida fabricado pela Monsanto cuja base é o glifosato. Estudos indicam que mesmo em pequenas quantidades o pesticida pode ser nocivo à saúde humana. O surgimento de Roundup se deu em 1970, com a síntese do glifosato, ingrediente ativo do herbicida. Em 1974, Roundup foi registrado pela primeira vez para uso na Malásia e no Reino Unido e dois anos depois nos Estados Unidos. O Brasil recebeu sua primeira amostra para testes em 1972 e em 1978 o produto, ainda importado, chegava ao País para ser comercializado. Ele passou a ser produzido no Brasil em 1984.
(IHU, 08/03/2009)