A mudança climática afeta de forma já visível a vida dos pássaros europeus, segundo os resultados de um estudo conduzido pela Universidade de Durham (Reino Unido) e publicado, na quarta-feira (4), na revista PLoS ONE. Essa conclusão se apoia nos dados fornecidos por um novo indicador que mede a sensibilidade dos pássaros às variações de temperatura.
Das 122 espécies de pássaros comuns estudadas entre as 526 que a Europa possui, 75% apresentam uma queda de número devido ao aquecimento climático, que reduz as suas superfícies potenciais de distribuição. Em um primeiro momento, os pássaros podem responder a essa transformação de seu ambiente procurando se instalar mais ao norte ou a alturas mais elevadas nas regiões montanhosas, mas essas migrações são limitadas. Para os 25% de espécies restantes, os pesquisadores observam um impacto positivo da elevação das temperaturas.
"Esse novo indicador é uma espécie de 'Footsie' da biodiversidade, mas enquanto o indicador da Bolsa britânica mede a boa ou má sorte das ações, o nosso resume a evolução da biodiversidade sob o efeito da mudança climática. Nossos primeiros resultados mostram um impacto crescente", explica Stephen Willis, um dos autores do estudo.
Galinhas d'angola, diversos tipos de passarinho, tentilhões, chapim-sibilinos ou ainda rouxinóis russos fazem parte das espécies cujo futuro sobre o território europeu seria menos garantido. "Todo mundo pressentia que algo estava acontecendo, mas ninguém pensava que o aquecimento já teria essas consequências", comenta Philippe Dubois, da Liga ROC para a proteção da fauna selvagem.
A Agência Europeia do Meio Ambiente, que financiou parcialmente o estudo, decidiu integrar esse novo indicador à bateria de 26 índices que ela utiliza para medir a destruição da biodiversidade sobre o continente. A União Europeia (UE) se comprometeu a deter esse fenômeno até 2010, indo além das promessas mais prudentes feitas pela comunidade internacional na Cúpula da Terra de 2002.
Os pássaros são considerados como um bom marcador da biodiversidade, mas essa escolha também está ligada ao fato de que eles fazem parte das espécies mais estudadas, para aqueles cujos dados são numerosos o suficiente para construir indicadores sólidos.
"É um bom ponto de partida para medir a vulnerabilidade à mudança climática, mas nós trabalhamos em projetos complementares, especialmente com plantas e borboletas, para poder enriquecê-lo", explica Sophie Condé, do Centro Temático Europeu sobre a Biodiversidade.
(Por Laurence Caramel, Le Monde, UOL, 07/03/2009