O governo da Venezuela deu outro passo em sua meta de controlar a produção de alimentos com a interdição, a partir desta sexta-feira, de uma fábrica de celulose irlandesa Smurfit Kappa, dois dias depois de ter desapropriado uma fábrica de arroz da transnacional Cargill.
"Estão desapropriados 1.500 hectares da Smurfit Kappa Group. O cultivo do eucalipto absorve quase toda a água do subsolo. Isso está proibido", anunciou o presidente Hugo Chávez, referindo-se à propriedade de El Piñal, situada no noroeste do país.
"Vamos explorar de maneira racional essa madeira (eucalipto) e vamos semear outras coisas no lugar, como milho, mandioca e inhame", acrescentou o chefe de Estado em um ato público.
Por outro parte, Chávez também anunciou a intervenção em outra fazenda, a chamada El Maizal, de 2.237 hectares e situada também no noroeste do país. A identidade de seus proprietários não foi divulgada, mas o presidente assegurou que eles receberão uma indenização correspondente.
Todas estas terras passarão a ser de propriedade coletiva e usadas para cultivos de alimentos, uma medida com a qual o presidente deseja paliar a escassez de comida.
Chávez assegurou que para o sucesso da "Venezuela socialista" é crucial a "transformação da estrutura da propriedade da terra".
A Smurfit Kappa Cartón, filial da irlandesa de mesmo nome, é um grupo de manufaturas que opera na Venezuela desde 1954, e está dedicado a plantações florestais e fabricação de papel, cartolina e embalagens.
Na quarta-feira, Chávez ordenou a expropriação da processadora de arroz da americana Cargill.
Chávez também determinou o início de uma "investigação judicial" sobre a empresa, afirmando que ocorreu uma "violação flagrante de tudo" que está previsto em sua estratégia de controle dos preços da cesta básica.
No sábado, Chávez havia ordenado a intervenção em várias processadoras de arroz para vigiar o cumprimento das cotas de produção do arroz branco, cujo preço é tabelado pelo governo.
O presidente afirma que vai expropriar todas as processadoras que não cumprirem as determinações do governo sobre produção e preços.
Outro alvo de Chávez é a processadora de arroz do grupo Polar, que também não cumpriria as cotas de produção do arroz tabelado, e está sob ameaça de expropriação.
Nesta quinta-feira, funcionários públicos iniciaram a ocupação das instalações da Cargill, no estado de Portuguesa.
Para o presidente da Confederação Venezuelana das Indústrias (Conindustria), Eduardo Gómez Sígala, estas medidas "estrangulam" a economia e são fruto do "desespero" de um governo que "busca responsabilidades em qualquer parte".
"Não há como inventar a produção de matérias primas quando não há produção no país (...) O governo tem manejado estes estoques, tem importado e destruído a produção interna, e agora surge com esta agressividade para se justificar".
Com a expropriação de uma processadora de arroz da americana Cargill, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, abriu uma nova frente de batalha, agora contra as empresas privadas do setor de alimentos básicos.
Segundo o líder venezuelano, estas companhias privadas se empenham em "violar, de forma flagrante", as leis locais que garantem o acesso da população a alimentos baratos e de qualidade.
Desde 2003, os alimentos da cesta básica são tabelados na Venezuela, mas há falta de arroz, café, leite, açúcar e outros produtos nos supermercados, em meio a uma inflação que superou os 40% em 2008.
(AFP, 08/03/2009)