Certas rochas abundantes nas costas leste e oeste dos EUA podem no futuro ser usadas para absorver emissões de dióxido de carbono de modo a reduzir o ritmo do efeito estufa, segundo cientistas. "Um dia isso poderia ser uma ferramenta incrivelmente útil para ajudar a combater o aquecimento global", disse Sam Krevor, coordenador de um novo estudo do Instituto da Terra, da Universidade Columbia, e do Serviço de Pesquisa Geológica dos EUA, que mapeou tais rochas nos Estados Unidos.
Os cientistas há muito sabem que as rochas absorvem naturalmente o dióxido de carbono, agregando-o a minerais para formar sólidos como o carbonato de cálcio, uma substância comumente achada em rochas, que é também a principal matéria-prima de conchas e cascas de ovos. Quando suas superfícies são dissolvidas pelo efeito do clima e dos ciclos naturais, as rochas absorvem o dióxido de carbono da atmosfera conforme este se recristaliza.
Em laboratório, os cientistas aceleraram esse processo moendo rochas e acrescentando um catalisador como o citrato de sódio para dissolvê-las. As rochas então voltam a se formar em minutos, absorvendo CO2. Mas esse processo ocorre numa escala pequena demais e exige muita energia e outros insumos para dar cabo de vastos volumes do gás CO2, considerado o principal vilão do aquecimento global.
Por isso os cientistas estão procurando afloramentos naturais de rochas que possam ser estimulados a absorver o CO2 mais rapidamente do que ocorre de forma natural. Um método poderia envolver perfurar a rocha e injetar água quente e CO2 pressurizado.
É preciso realizar mais estudos sobre a viabilidade disso. Mas, se funcionar, poderia reduzir a necessidade do emergente setor do sequestro de carbono, que visa a capturar o CO2 de lugares como fábricas e usinas termoelétricas para injetá-lo em grandes depósitos subterrâneos, evitando que chegue à atmosfera.
A redução das emissões de CO2 é o principal instrumento disponível para a mitigação da mudança climática, que segundo cientistas é provocada principalmente por atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis.
De acordo com o estudo, há cerca de 15,5 mil quilômetros quadrados de rochas ricas nos minerais olivina e serpentina, que poderiam ser usadas para a absorção de carbono, na superfície ou logo abaixo da superfície, nos Estados de Califórnia, Oregon e Washington (todos na Costa Oeste), e ao longo dos montes Apalaches, no leste da América do Norte, entre o Alabama e Newfoundland (Canadá).
Rochas semelhantes são abundantes também em Omã, em Papua-Nova Guiné, na Nova Caledonia e na costa do Adriático. Krevor disse que as rochas dos EUA poderiam absorver até 500 anos de emissões de CO2 dos EUA, segundo maior poluidor do mundo, atrás da China. "O problema não é a falta de rochas, é colocá-las para fazer o trabalho", explicou.
(Por Timothy Gardner, Reuters, O Globo, 07/03/2009)