Hidrelétricas inauguram "surto de progresso" e abrem oportunidades de negócios; empresas anunciam investimentos
Votorantim, Carrefour, Alstom-Bardela e Makro, entre outros, decidiram se instalar em Rondônia, que precisa de infraestrutura
108 obras em andamento na capital Porto Velho, onde o metro quadrado chega a custar R$ 3.000
As usinas do rio Madeira abrem uma nova fase em Rondônia, que já experimentou dois surtos de progresso com a construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré, desativada em 1966, e o garimpo de ouro, entre 1970 e 1990. "Desta vez é diferente", diz Dênis Baú, presidente da Fiero (Federação das Indústrias de Rondônia). "Estamos falando de investimentos de R$ 21 bilhões."
Isso não quer dizer que a euforia esteja anulando a preocupação. Há o temor de que o Estado não consiga concluir os investimentos em infraestrutura para suportar as empresas que já se instalam na região e as que estão negociando sua chegada. Em Rondônia, só 2% dos domicílios têm rede de esgoto, e 17%, água encanada.
Outra preocupação da Fiero é o treinamento da mão-de-obra local para atender não só as usinas como o mercado local, que, se espera, estará muito mais aquecido em sete anos. "Por isso, queremos encontrar nossa vocação econômica para que, depois das usinas prontas, possamos continuar crescendo," diz Baú.
Uma das ideias da federação é transformar o Estado em uma alternativa em logística para os exportadores. "Com a conclusão da rodovia Transoceânica, que ligará o Pacífico ao Atlântico em um ano e meio, e a construção das eclusas no Madeira, podemos ser um polo de embarques." Para Baú, os exportadores poderiam optar ali entre o transporte rodoviário, aéreo ou fluvial. "O custo do frete para as empresas pode sofrer redução de até 30%."
Explosão do consumoEnquanto isso, 108 empreendimentos imobiliários estão em andamento em Porto Velho. Construtoras como a Gafisa fecharam parceria com empresários locais e lançaram residenciais, cujo preço chega a R$ 1 milhão. "O metro quadrado aqui custa R$ 3.000", afirma Alessandro de Oliveira Lima, diretor da GM Engenharia, parceira da Gafisa. O preço é comparável ao dos Jardins, bairro nobre de São Paulo.
O empresário Uyrandê José Castro, da construtora Aquarius, inovou com o lançamento de um hotel e de flats para executivos. Os preços variam entre R$ 129 mil e R$ 169 mil. "Muitos estão comprando como investimento", diz Castro.
Os clientes de alto poder aquisitivo representam 30 mil consumidores no Estado, cuja população é de 1,5 milhão de habitantes. Mas também há projetos para a população de baixa renda. A Odebrecht, que constrói a usina de Santo Antônio, lançou o Bairro Novo, conjunto residencial para famílias que ganham entre três e dez salários mínimos.
Empresas como Votorantim, Alstom-Bardela, Makro, Carrefour, McDonald's e as bandeiras de hotéis Ibis e Sleep Inn estão abrindo filiais em Rondônia. Porto Velho viu a primeira escada rolante ser instalada no shopping da cidade em outubro de 2008, onde Americanas, Renner, Richards, Ellus e Kopenhagen possuem lojas.
O segundo shopping já está em andamento e deverá ficar pronto em dois anos. Na cidade, também há grifes de luxo como Calvin Klein Jeans e Carmen Steffens.
Outro sinal de que o consumo está em alta é a venda de carros. Apenas em janeiro deste ano foram emplacados 1.561 veículos na capital, onde há concessionárias de Honda, Peugeot e Citröen, entre outras. O crédito é o motor do comércio, com promoções e venda parcelada a juros baixos.
Esses efeitos também ocorrem em cidades menores. Situado a 90 km da capital Porto Velho, o distrito de Jaci-Paraná mudou nos últimos dois anos no rastro das usinas de Santo Antônio e Jirau.
Nesse período, a população saltou de 9.000 para 13 mil. Lá não há ruas asfaltadas, água encanada nem esgoto. A energia é gerada pela queima de óleo diesel. Em meio a esse cenário, já existem lan houses, escritórios de advocacia e lojas que vendem fogões, geladeiras, parabólicas e micro-ondas.
A especulação fez casas de madeira com menos de 60 metros quadrados serem alugadas por R$ 1 mil. Unidades maiores em alvenaria são alugadas por R$ 6.000. Terrenos são vendidos por R$ 30 mil, nove vezes mais que há dois anos, e não há registros de imóveis. A região é fruto da ocupação irregular.
A euforia existente em Jaci-Paraná não é a mesma encontrada na capital Porto Velho, onde os moradores apoiam a construção das usinas, mas ainda não têm certeza da estabilidade do crescimento na região. "Aqui o crescimento vai durar", diz Joel Binos de Jesus, administrador de Jaci-Paraná. "Já estamos até negociando a emancipação. Nosso distrito será um novo município." (JW)
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Folha de São Paulo, 08/03/2009